O ano foi marcado pelos ótimos desempenhos de grandes nomes e também por revelações em filmes que renderam polêmica fora das salas pelos méritos das obras. Confira a seguir nossas escolhas como protagonistas e coadjuvantes em 2019. Acha que a gente esnobou alguém? Acha que hiperestimamos alguma performance? Deixe sua opinião na barra de comentários do site!
Os protagonistas (ordem alfabética pelo sobrenome):
Leonardo DiCaprio
como Rick Dalton
em Era uma vez em... Hollywood
Na pele do ator de TV em crise que parte rumo a uma empreitada no western italiano, Leonardo DiCaprio oferece mais uma grande interpretação da sua carreira. Em Era uma vez em... Hollywood, o ator assimila toda a instabilidade de Rick Dalton, indo da completa insegurança sobre sua capacidade de atuar à retomada da autoconfiança a partir de uma experiência em um set. É um desempenho que permite ao ator trafegar entre o drama e a comédia, frisando o caráter patético do conflito ególatra da sua personagem, mas também a pungente autenticidade desses sentimentos. Isso tudo faz DiCaprio conduzir de forma brilhante o ridículo que algumas situações impõem ao seu egocêntrico astro da década de 1960.
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Marco Nanini
como Pedro
em Greta
Marco Nanini é tão grande em Greta que transforma por completo a experiência de assistir ao drama de Armando Praça. O longa tem alguns percalços no seu roteiro e direção, mas Nanini garante mais um momento memorável nas telas ao dar vida a um enfermeiro homossexual em crise na maturidade, lidando com dilemas que envolvem o medo da morte e a solidão. É uma abordagem incomum no cinema a personagens LGBTQIA+ e o ator compõe Pedro com a complexidade que merece, transformando-o numa figura com dilemas palpáveis e passíveis de empatia, mas também uma personagem que não necessariamente toma decisões totalmente éticas ao longo da sua jornada.
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Brad Pitt
como Cliff Booth
em Era uma vez em... Hollywood
É possível que não exista performance mais "relaxada" nas telonas do que a de Brad Pitt como o dublê de cenas de ação Cliff Booth em Era uma vez em... Hollywood. O veterano astro de Hollywood está extremamente à vontade no filme de Tarantino compondo uma personagem cheia de carisma mesmo que sua natureza violenta o incline para uma patologia. Pitt teve ascensão ainda jovem graças em parte a seu sex appeal nas telas demonstra pleno amadurecimento como ator, sendo capaz de utilizar sua persona no star system hollywoodiano a favor de uma interpretação que pode lhe render o Oscar de melhor ator coadjuvante no início do próximo ano. Bom, para nós, ele é protagonista assim como DiCaprio, mas isso é discussão para outro post.
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Victor Polster
como Lara
em Girl
Premiado em Cannes na mostra Un Certain Regard, Victor Polster tem uma interpretação visceral em Girl ao dar vida a um transsexual prestes a passar por uma cirurgia de redesignação de gênero. No filme de Lukas Dhont, o ator com passagem pelo universo da dança clássica, vive toda a ansiedade e a jornada de descobertas de Lara com muita naturalidade. Ao longo do filme, Lara passa pelas tensões e cobranças com si mesma no grupo de balé, conflitos familiares mesmo diante da aceitação do pai e do irmão, a rejeição com o próprio corpo, o desejo de acelerar processos recomendados pela medicina e a descoberta da sua sexualidade. Polster dimensiona todos esses estágios com grande sensibilidade e com uma empatia transformadora.
Disponível na Netflix
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Joaquin Phoenix
como Arthur Fleck ou Coringa
em Coringa
O desempenho de Joaquin Phoenix é parte do êxito dessa repercussão, afinal, como era de se esperar, o ator se doa na composição de um sujeito com severas sequelas psicológicas que só se deterioram ainda mais ao longo do filme. Phoenix dimensiona o drama desse sujeito rejeitado socialmente com sintomas como sua constante risada que representa mais dor do que gozo. Em Coringa, Phoenix dimensiona a distorção mental, a dor e a violência como expressão física de um personagem que dá continuidade a uma brilhante (e controversa pelos seus "métodos" de trabalho) fase na carreira do ator.
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Confira a crítica de Wanderley Teixeira para o filme aqui.
Confira a crítica de Klaus Hastenreiter para o filme aqui.
Os coadjuvantes (ordem alfabética pelo sobrenome)
Gregório Duvivier
como Antenor Campelo
em A Vida Invisível
Na pele do marido abusivo de Eurídice Gusmão, a protagonista de A Vida Invisível de Karim Aïnouz interpretada por Carol Duarte, Gregório Duvivier interpreta uma das figuras mais incomodas que vimos nas telas em 2019. O Antenor Campelo é o pior exemplar da sociedade atual, um pai de família que escamotea naturalmente seus atos de violência e castração no cotidiano através da sua natureza supostamente cordial. Somente um ator com entendimento tão lúcido sobre alguns dos principais problemas culturais da sociedade brasileira como Duvivier poderia dar vida de maneira tão precisa a esse tipo de personagem. Em um filme dominado por mulheres, ele acaba sendo um destaque por ser o grande antagonista dessa história.
Em cartaz nos cinemas
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Richard E. Grant
como Jack Hock
em Poderia me Perdoar?
Com todo nosso respeito a Mahershala Ali, mas prêmio de melhor ator coadjuvante na última edição do Oscar deveria ter sido de Richard E. Grant como o safo trambiqueiro Jack Hock de Poderia me Perdoar?. No longa de Marielle Heller, Grant interpreta um sujeito cheio de falhas de caráter, mas ainda assim extremamente irresistível como companhia, tanto que consegue quebrar a "couraça" da personagem de Lee Israel, vivida por Melissa McCarthy, como nenhum outro ao longo da história. Em Poderia me Perdoar?, Grant transita entre a ironia e a elegância decadente com maestria.
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Wesley Snipes
como D'Urville Martin
em Meu Nome é Dolemite
Meu Nome é Dolemite é, indubitavelmente, veículo para Eddie Murphy brilhar na pele do icônico artista da blaxploitation Rudy Ray Moore, mas há espaço para Wesley Snipes, sobretudo porque ele também tem momentos geniais como o diretor D'Urville Martin. Alguns dos momentos mais hilários de Meu Nome é Dolemite são protagonizados por Wesley Snipes na pele do relutante diretor nos sets da primeira produção cinematográfica protagonizada por Rudy Ray Moore. O desempenho de Snipes nos faz lembrar como o ator tem um aguçado timing cômico.
Disponível na Netflix
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Arieh Worthalter
como Mathias
em Girl
Talvez o drama de Girl não ganhasse tanto corpo caso não tivesse o personagem de Arieh Worthalter. Na pele do pai da adolescente transsexual do filme, Worthalter exibe compreensão com a identidade do filho, além de profunda empatia pelo seu sofrimento. Em cenas de intenso conflito da protagonista em suas esperadas variações de humor, Worthalter interpreta um pai que segura as pontas pelo amor que sente pela filha e isso é perceptível em cada momento em que o personagem está presente e interage com a Lara de Polster. Sabemos que essa aceitação a filhos transsexuais não costuma vir tão facilmente, sobretudo por pais, mas a protagonista encontra-se em um momento tão delicado da sua vida que a experiência de Girl seria praticamente insuportável para o espectador sem uma instância sequer de afeto e Worthalter acaba representando isso na obra.
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O melhor ator coadjuvante, segundo o Chovendo Sapos:
Anthony Hopkins
como Papa Bento XVI
em Dois Papas
Há alguns anos percebíamos na carreira de Anthony Hopkins um certo comodismo na composição das suas personagens no cinema, muitas delas representavam espécies de variação da genial criação do ator em O Silêncio dos Inocentes, o vilão Hannibal Lecter. Em Dois Papas do brasileiro Fernando Meirelles, Hopkins mostra que na maturidade ainda tem outras facetas a oferecer. O ator interpreta o Papa Bento XVI, uma figura conservadora que durante a sua trajetória como líder da Igreja Católica não conseguiu muito a simpatia das pessoas como seu antecessor, João Paulo II.
Com o roteiro afiado de Anthony McCarten, a direção de Fernando Meirelles e a parceria que estabelece com Jonathan Pryce em cena, Hopkins transforma Bento XVI numa figura simpática que vive no longa um processo de desconstrução. Os diálogos leves e divertidos dividem as cenas com os instantes de profunda assimilação das culpas por atos condenáveis no passado e um sincero desejo de correção, compartilhado com Francisco. A presença de Hopkins no filme é tão magnética que os melhores momentos de Dois Papas são aqueles nos quais a ação é concentrada nas conversas entre sua personagem e a de Jonathan Pryce. Nesses instantes, o filme é tomado por uma grandeza absurda de alma.
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Em anos anteriores: Nahuel Pérez Biscayart em 120 Batimentos por Minuto (2018); Bill Skarsgard em It: A Coisa (2017); Tom Hardy em O Regresso (2016); Mark Rylance em Ponte dos Espiões (2015); Jared Leto em Clube de Compras Dallas (2014); Philip Seymour Hoffman em O Mestre (2013); Ezra Miller em Precisamos falar sobre o Kevin (2012); Ben Mendelsohn em Reino Animal (2011); Luke Ford em Sei que vou te amar (2010); Christoph Waltz em Bastardos Inglórios (2009); Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008); Jackie Earle Haley em Pecados Íntimos (2007) e Jack Nicholson em Os Infiltrados (2006).
Melhor jovem ator de 2019:
Melhor jovem ator de 2019:
Zain Al Rafeea
como Zain
em Cafarnaum
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado, Cafarnaum é um filme difícil de ser assistido. O longa de Nadine Labaki conta a jornada de um garoto de 12 anos do Líbano condenado a cinco anos de detenção por ter cometido um crime muito grave. Até chegar a condenação do protagonista, o espectador acompanha sua difícil jornada de lar em lar, algo que nos dá um panorama sobre as duras condições de vida da população do país e a violenta e precoce retirada do direito a uma infância dessas crianças. Zain Al Rafeea é tão expressivo e maduro (sem ser adulto) em cena que o drama exibido na trama só ganha ainda mais autenticidade quando ele assume o protagonismo dos seus primeiros planos.
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Em anos anteriores: Matvey Novikov em Sem Amor (2018); Alex R. Hibbert em Moonlight: Sob a Luz do Luar (2017); Tom Holland em O Impossível (2012); Max Records em Onde os Monstros Vivem (2010) e Kodi Smit-McPhee em Romulo, meu pai (2008).
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