Quem acompanha o site há anos sabe que a lista de atrizes é a nossa preferida (até mais do que a de filmes). Selecionamos dez trabalhos de atrizes no cinema em duas categorias, protagonista e coadjuvante em longa-metragem, com o bônus para a performance de uma jovem atriz. Confira nossos desempenhos preferidos de 2019 e sinta-se à vontade para comentar suas interpretações preferidas, elencar as que acha que não citamos ou as que acredita que tenham sido hiperestimadas.
Glenn Close
como Joan Castleman
em A Esposa
Quando perdeu surpreendentemente o Oscar de melhor atriz para Olivia Colman no início do ano, Glenn Close superou a história de muitos injustiçados pela premiação. Na pele da esposa de um grande escritor ofuscada pela egolatria do marido, Close esteve soberba em A Esposa, oferecendo ao público uma outra faceta do seu talento ao fugir por completo das personagens pelas quais ficou conhecida durante toda a sua carreira, como a Alex Forrest de Atração Fatal, a Marquesa de Merteuil de Ligações Perigosas ou Cruella De Vil de 101 Dálmatas. Me parece redutor acreditar que as nomeações e vitórias da atriz por esse papel sejam um gesto de misericórdia. Como esquecer aquele zoom que o diretor Björn Runge dá na atriz enquanto o personagem de Jonathan Pryce discursa e como Close desconstrói gradualmente sua personagem com suas expressões faciais?
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Olivia Colman
como a Rainha Anne
em A Favorita
Caso não fosse igualmente brilhante em A Favorita e não fosse o poço de carisma que é, Olivia Colman correu o risco de ficar conhecida pelo título de "atriz que tirou o Oscar de Glenn Close". O seu discurso de vitória foi tão espirituoso e espontaneamente emocionado que em questão se segundos nos tirou do espanto e revolta por mais uma esnobada da Academia ao trabalho de Close para a completa satisfação de vê-la consagrada como vencedora. Na pele da monarca de A Favorita, Colman compôs uma mulher repleta de traumas e inseguranças enquanto tem sua atenção disputada pelas bajulações das personagens de Emma Stone e Rachel Weisz. Colman transita entre o humor e a melancolia de uma rainha que como muitos monarcas chegou ao poder sem maturidade emocional e cheia de caprichos.
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Melissa McCarthy
como Lee Israel
em Poderia me Perdoar?
Ainda do grupo de indicadas ao Oscar de melhor atriz na edição passada do prêmio (só para termos uma dimensão como a seleção da última edição foi boa), Melissa McCarthy brilha na pele da escritora Lee Israel em Poderia me Perdoar?. Longe das comédias, McCarthy segue exercitando o seu olhar aguçado para a experiência humana ao compor a complexa personalidade de Israel, uma mulher extremamente inteligente sabotada pela sua própria dificuldade de articular-se socialmente. McCarthy exercita o tempo inteiro em cena a introspecção da personagem e suas possibilidades pontuais de expansão, levando-a a uma gradual e cortante transformação ao final da história, sobretudo quando sua relação com o personagem de Richard E. Grant vai ficando mais íntima.
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Lupita Nyong'o
como Adelaide Wilson e Red
em Nós
O cinema tem uma dívida com Lupita Nyong'o desde sua vitória como melhor atriz coadjuvante por 12 Anos de Escravidão no Oscar 2014. Ela foi paga lindamente por Jordan Peele em Nós. Desde a sua premiação na Academia, o cinema relegava a atriz papéis que não correspondiam ao impacto da sua performance revelação. Na pele das duas personagens de Nós, Lupita pôde exercitar a sua versatilidade. Seja na condução dos efeitos do trauma no cotidiano de Adelaide Wilson, seja na assustadora composição física e vocal de Red, Nyong'o está brilhante em cena, demonstrando como habitam nela a heroína do cinema de horror, mas também a própria encarnação do macabro. É um desempenho que, por um lado, nos faz torcer pelo seu êxito na narrativa (Adelaide) e, por outro, gela nossa espinha (Red). Definitivamente, merece ser lembrada no Oscar que se avizinha.
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A melhor atriz de 2019, segundo o Chovendo Sapos:
Julianne Moore
como Gloria Bell
em Gloria Bell
Para nós, não importa que Gloria Bell seja um remake do chileno Sebastian Lelio para sua própria obra, Glória de 2014. O filme protagonizado por Julianne Moore é igualmente pulsante na jornada que compõe para sua protagonista de meia idade, construindo uma personagem tão carismática e humana que consagramos sua intérprete em 2019 como a melhor interpretação de uma atriz no cinema, assim como fizemos com Paulina Garcia em 2014. Gloria Bell é um "prato cheio" para uma alguém com o calibre dramático de Julianne Moore, uma atriz que soube nuançar todos os estágios de enfrentamento da sua protagonista com temas que envolvem a passagem do tempo e que contrastam com sua inesgotável vontade de viver.
Julianne Moore detém o domínio dessa personagem até a última cena de Gloria Bell, quando entrega o seu solo na pista de dança de um casamento ao som de "Gloria" de Laura Branigan. É uma pena que o estigma do remake seja um obstáculo na apreciação do filme pelo público cinéfilo, que reclama de repetição, mas não vê problema algum em assistir reedições temáticas dos seus cineastas ou atores preferidos do sexo masculino ou mesmo assistir ao mesmo filme de super-herói toda temporada de blockbusters. Enfim, na defesa de Gloria Bell, a gente até milita. Lelio pode fazer uma série de filmes compondo um gloriaverse como bem brincou Nathaniel Rogers no podcast do blog The Film Experience que elegeríamos suas atrizes como as melhores interpretações femininas do ano. É o tipo de personagem que sentimos falta de ver na tela com mais frequência por uma Hollywood sempre omissa com suas atrizes, reduzindo-as a partir dos 50 anos às funções de esposa, mãe ou avó do protagonista masculino. Por mais Glórias no cinema americano!
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Em anos anteriores: Karine Teles em Benzinho (2018); Natalie Portman em Jackie (2017); Isabelle Huppert em Elle (2016); Regina Casé em Que horas ela volta? (2015); Paulina Garcia em Glória (2014); Emmanuelle Riva em Amor (2013); Charlize Theron em Jovens Adultos (2012); Juliette Binoche em Cópia Fiel (2011); Giovanna Mezzogiorno em Vincere (2010); Kate Winslet em Foi Apenas um Sonho (2009); Nicole Kidman em Margot e o Casamento (2008); Marion Cotillard em Piaf: Um Hino ao Amor (2007) e Meryl Streep em O Diabo veste Prada (2006).
As coadjuvantes (ordem alfabética pelo sobrenome)
Sônia Braga
como Domingas
em Bacurau
Fernanda Montenegro
Atuando pela segunda vez em um projeto de Kleber Mendonça Filho, Sônia Braga não ocupa o centro da narrativa de Bacurau como aconteceu em Aquarius de 2016, mas tem uma grande presença em cena como a médica do posto de saúde da cidade que dá título ao filme. Domingas tem como característica traços comuns a algumas das mais impactantes interpretações da carreira de Braga, a determinação, atuando como voz de liderança naquela comunidade com uma autoridade que a atriz consegue sustentar como poucas.
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Fernanda Montenegro
como Eurídice Gusmão
em A Vida Invisível
A nossa dama da dramaturgia, única atriz brasileira indicada ao Oscar, retornou em grande estilo aos cinemas com A Vida Invisível, melodrama de Karim Aïnouz premiado em Cannes e que representou o país na recente campanha ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Montenegro vive a personagem de Carol Duarte na maturidade ainda à procura da sua irmã. A presença de Fernanda em cena é breve e ocupa apenas a meia hora final do longa, mas Aïnouz reservou momentos de grande impacto para a atriz.
Em cartaz nos cinemas.
Margaret Qualley
como Pussycat
em Era uma vez em... Hollywood
Yordanos Shiferaw
como Rahil
em Cafarnaum
como Pussycat
em Era uma vez em... Hollywood
Margot Robbie está excelente em Era uma vez em... Hollywood como Sharon Tate, ainda que, de forma superficial, muitos acreditem que ela tem pouco a oferecer ao filme simplesmente porque tem poucos diálogos. No entanto, não conseguimos mencionar o filme sem destacar entre os desempenhos femininos a performance de Margaret Qualley como Pussycat, uma das integrantes da família Manson. Assim que o personagem de Brad Pitt dá carona a Pussycat, a gente tem contato com uma interpretação que domina a tela e se desdobra para capturar o interesse do espectador. E ela consegue.
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Yordanos Shiferaw
como Rahil
em Cafarnaum
Durante a jornada do garoto Zain ao longo do filme de Nadine Labaki, o público conhece outros personagens de Cafarnaum, mas, possivelmente, a presença de maior impacto no longa é a de Yordanos Shiferaw como a mãe solteira que em certo momento da história dá abrigo ao jovem protagonista do título. Shiferaw personifica com dignidade o drama de muitas mulheres no Líbano que vivem no limite do suportável e que tem que encontrar meios, sejam eles quais forem, de colocar comida na mesa de casa para os seus filhos.
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A melhor atriz coadjuvante de 2019, segundo o Chovendo Sapos:
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Confira a crítica de Wanderley Teixeira para o filme aqui.
Cynthia Erivo
como Darlene Sweet
em Maus Momentos no Hotel Royale
Cynthia Erivo anda tendo um grande momento na sua carreira cinematográfica com a repercussão do drama Harriet, uma interpretação que pode levá-la a concorrer a seu primeiro Oscar de melhor atriz. Apesar de ser pouco conhecida no audiovisual, Erivo é uma atriz renomada nos palcos americanos, tendo vencido o prêmio Tony, consagração máxima do teatro estadunidense, por sua performance na adaptação de A Cor Púrpura para a Broadway. Além de grandiosa em cena, Erivo tem uma das vozes mais potentes da indústria atualmente e tem usado esse dom para compor algumas das suas personagens.
Em Maus Momentos no Hotel Royale, Erivo interpreta a cantora Darlene Sweet, provavelmente a única personagem com algum resquício de bondade no mosaico criado por Drew Goddard. Pela profissão de Darlene, em diversos momentos, Erivo usa interpretações musicais de um repertório popular como instrumento para desarmar os personagens de caráter duvidoso do longa, como o hippie de Chris Hemsworth. Ela brilha na pele dessa figura incorruptível e supostamente frágil numa "terra de ninguém" entre as atuações de gente graúda como Jeff Bridges e Jon Hamm.
Confira a crítica de Wanderley Teixeira para o filme aqui.
Jovem atriz do ano:
Julia Butters
como Trudi Fraser
em Era uma vez em... Hollywood
Colocada lado a lado com o personagem de Leonardo DiCaprio em dado momento de Era uma vez em... Hollywood, a jovem atriz Trudi Fraser interpretada por Julia Buters é o contraponto de Rick Dalton na narrativa. Sem artificialismos e comprometida com o estudo na composição do personagem, Fraser extrai de Dalton uma interpretação que surpreende o mesmo em um set de filmagens. Butters interpreta essa madura estrela mirim dos anos de 1960 com tanta propriedade que fica difícil não acreditar na credibilidade e no comprometimento profissional da sua personagem em sua breve passagem pelo filme de Tarantino.
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Em anos anteriores: Brooklynn Prince em Projeto Flórida (2018); Sareum Srey Moch em First they killed my father (2017); Saoirse Ronan em Hanna (2011) e Isabelle Fuhrmann em A Órfã (2009).
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