Diferente das vilãs Alex Forrest e Cruela DeVil de Atração Fatal ou 101 Dálmatas, respectivamente, papéis que a eternizaram nas telonas, a Joan Castleman de Glenn Close em A Esposa não é papel para grandes gestos, mas para sutilezas, olhares, reações quietas apropriadas a uma mulher que durante anos se acostumou com o papel de sombra do seu marido. Acostumados aos momentos histriônicos de Close no cinema, é possível que até venhamos minimizar seu momento em A Esposa, mas ele é tão rico nos detalhes que a atriz oferece a sua personagem... É algo próximo daquele seu plano final em Ligações Perigosas, que revela tanto da Marquesa de Merteuil ao simplesmente observa-la se olhando no espelho.
A Esposa conta a história de Joan Castleman, uma mulher que abdicou da carreira para simplesmente apoiar a trajetória do seu marido Joe enquanto ele ganhava prêmios e transformava seus livros em best-sellers. Durante uma viagem do casal a Estocolmo para ele receber o prêmio Nobel, Joan, aos poucos, percebe como se anulou durante o casamento e que talvez não lhe seja suficiente ser conhecida apenas como a Sra. Castleman.
A Esposa pode ser reduzido como o filme que anda rendendo a Glenn Close prêmios (incluindo a possibilidade de conferir a primeira vitória da atriz no Oscar). Contudo, tal reconhecimento acaba sendo injusto com o trabalho do sueco Björn Runge como um todo. O drama é extremamente bem cuidado na sua direção, aproveitando ao máximo o desempenho dos seus atores. É curioso como, por exemplo, a câmera do diretor persegue justificadamente o rosto de Close nas suas reações em eventos sociais ou quando seu marido gaba-se de seus feitos. Nesses momentos, diretor, atriz e filme revelam-se poderosos naquilo que tem a dizer sobre sua história e sua verdadeira protagonista sem soar literal, enfático ou panfletário, construindo indivíduos complexos e com sentimentos humanos e reais.
Glenn Close e Jonathan Pryce protagonizam cenas preciosas revelando uma cumplicidade que gradualmente se desnuda em cena, saindo da afetuosidade do primeiro momento que testemunhamos para pontualmente ganhar outras camadas de leitura. Aos poucos, percebemos a natureza ególatra de Joe, assim como também notamos como o tempo faz Joan cair em si sobre a situação de seu casamento, como numa cena durante a cerimônia do Nobel que faz Glenn Close expressar muito sobre sua personagem sem dizer uma palavra, apenas reagindo ao discurso do seu marido e às ações dos convidados do salão. São esses momentos que tornam A Esposa um grande "pequeno" filme (com o perdão do "lugar comum" da adjetivação) e a interpretação de Close, como sempre, irretocável.
The Wife, 2018. Dir.: Björn Runge. Roteiro: Jane Anderson. Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Elizabeth McGovern, Max Irons, Harry Lloyd, Annie Starke, Johan Widerberg, Karin Franz Korlof, Jan Mybrand, Anna Azcarate. Alpha Filmes, 100 min.
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