Como uma espécie de Assassinato no Expresso do Oriente dos anos de 1970 com direito a um grupo de hippies seguidores de um culto, Maus Momentos no Hotel Royale chega ao Brasil somente por serviços de streaming e DVD, após penar nas bilheterias internacionais. É uma pena que o filme teve uma trajetória torta pois apesar de apresentar alguns problemas, o trabalho de Drew Goddard, do igualmente interessante terror teen O Segredo da Cabana, merece a projeção que somente o cinema poderia lhe dar.
O longa tem início quando um grupo de personagens - um padre, uma cantora, um vendedor de aspirador de pó e uma jovem hippie - chegam ao Hotel Royale, uma propriedade outrora luxuosa que hoje está completamente entregue às moscas. O grupo acaba envolvido numa trama criminosa cometida dez anos atrás e descobre alguns segredos do local, que não é exatamente aquilo que parece ser.
Goddard conta sua história de maneira bem interessante, inicialmente dividindo sua narrativa pelos quartos para contar a história de cada uma das personagens que se hospedam neles. Por óbvio, cada uma dessas figuras esconde um segredo e apesar do longa ter mais de duas horas de duração, a princípio, parece ter fôlego para segurá-las porque a trama é bastante instigante e o projeto conta com bons atores que entregam desempenhos competentes, desde o veterano vencedor do Oscar Jeff Bridges à Cynthia Erivo, indubitavelmente, um dos melhores elementos do filme na pele da cantora Darlene Sweet. Erivo tem momentos de encher a tela, captando magneticamente a atenção do espectador, sobretudo pela maneira como Goddard utiliza sua voz no filme. Diferente dos demais personagens, Darlene não tem malícia ou interesses escusos e sua arma para sobreviver na caótica e violenta trama do filme é sua arte.
Infelizmente, nem tudo é perfeito em Maus Momentos no Hotel Royale, o filme tem uma queda de ritmo quando entra em cena o grupo comandado por Billy Lee, personagem de Chris Hemsworth. É nesse último ato que o longa faz sentir a sua extensa duração e isso acaba não contando pontos a seu favor. Entre os aspectos negativos desse ato está a interpretação de Hemsworth, que, apesar do esforço, não consegue dar estofo para o seu personagem psicopata, sendo ofuscado pela própria Erivo (maravilhosa numa interpretação de "Unchained Melody") e da menina Cailee Spaeny, um "projeto" de serial killer manipulado por Billy Lee.
O mosaico interessante de personagens e a maneira como Goddard os apresenta e estabelece uma dinâmica entre eles sustenta boa parte de Maus Momentos no Hotel Royale, tornando-o um filme inventivo, divertido e cheio de nuances na maior parte do tempo. Há percalços, mas os méritos se sobressaem e o entretenimento é da mais alta qualidade.
Bad Times at the El Royale, 2018. Dir.: Drew Goddard. Roteiro: Drew Goddard. Elenco: Jeff Bridges, Cynthia Erivo, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth, Lewis Pullman, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Xavier Dolan, Shea Whigham, Mark O'Brien. Fox, 141 min.
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