Chegamos ao derradeiro Listão, àquele no qual elegemos os melhores do ano. Elencaremos os 10 melhores filmes, mas em 2017 resolvemos adicionar algumas menções especiais como fizemos nas eleições dos melhores atores e atrizes. Assim, também será o momento de falarmos sobre nossos documetários e séries de TV preferidas.
Ressaltamos que os nomes da lista atendem a critérios de excelência cinematográfica, claro, mas não apenas isso, afinal entendemos que nossa função vai além de verificar erros e acertos de filmes como um checklist de manual de linguagem cinematográfica. Também levamos em consideração critérios como impacto cultural e, claro, nossos vínculos afetivos com as obras citadas. Além disso, como deixamos claro nas postagens anteriores da edição do Listão 2017, tratamos apenas de obras que chegaram comercialmente para o público brasileiro em 2017, portanto filmes e séries que foram lançados entre janeiro e dezembro deste ano.
Seguem os nossos eleitos:
Melhores filmes (longas de ficção)
10º lugar
Blade Runner 2049
Dir.: Denis Villeneuve
Elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas
O canadense Denis Villeneuve conseguiu o feito de realizar uma continuação do cultuado Blade Runner ter relevância entre tantos reboots e sequências nostálgicas supérfluas que Hollywood vem produzindo. Com a adição de Ryan Gosling e o retorno de Harrison Ford como o icônico Rick Deckard, Villeneuve concebeu uma ficção-científica na tradição dos melhores títulos do gênero, como o próprio Blade Runner, tocando em questões relevantes sobre nossa existência. O ponto alto de Blade Runner 2049 é a fotografia do veterano Roger Deakins, tornando o filme um longa praticamente narrado pela maneira como suas imagens se impõem na tela. Um feito a ser notado.
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9º lugar
Raw
Dir.: Julia Ducournau
Elenco: Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Oufella
Ambientado num campus universitário, o terror sobre canibais Raw chegou no Brasil pela Netflix e além de oferecer uma história macabra sobre ritos de passagem, trata de temas típicos desse universo, como o bullying com novatos (os trotes). A diretora Julia Ducournau oferece uma atmosfera sombria que não poupa o espectador de cenas grotescas, mas também de surpresas ao longo da história. O longa é a confirmação de que estamos vivendo uma fase cheia de bons frutos no gênero, todos eles tentando dar conta de uma realidade que muitas vezes não gostamos de enxergar: em alguns momentos, viver é um processo psicologicamente perturbador e as fontes de horror estão por todos os cantos.
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8º lugar
Mulher Maravilha
Dir.: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen
Sim, vamos na contramão de quem já foi picado pela síndrome do "ah, não é tudo isso que falam" e consideramos Mulher Maravilha um dos melhores de 2017. O filme não segue uma tendência do seu nicho nos últimos anos, as histórias de super-heróis recheadas de cinismo, trilha sonora pop, humor adolescente e macro conexões de um universo expandido. Mulher Maravilha está à serviço do mal afamado DCEU, mas se sustenta nas suas próprias pernas com sua história de origem na tradição mais ingênua e basilar da mitologia do super-herói, como Superman: O Filme, Homem-Aranha 2 e Capitão América: O Primeiro Vingador. Além disso, não é preciso dizer, mas frisamos, que duas das cenas mais emblemáticas do ano saem daqui, o confronto entre as amazonas e os alemães em Themyscira e Diana Prince enfrentando as trincheiras. Infelizmente, há quem persiste em olhar para as picuinhas Marvel vs. DC e não reconhece o filme de Patty Jenkins pelo que ele proporciona. Para nós, ele é um vencedor.
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7º lugar
It: A Coisa
Dir.: Andy Muschietti
Elenco: Jaeden Lieberher, Sophia Lillis, Bill Skarsgard
Se as adaptações cinematográficas do legado literário de Stephen King se dividem em dois extremos, It: A Coisa certamente está no grupo dos títulos de maior êxito. O longa é uma narrativa de horror perturbadora, competente ao criar uma atmosfera repleta de riscos para seus personagens, mas também consegue se firmar como uma história tocante sobre o processo de compartilhar os medos da infância e superá-los entre amigos. No fundo, é sobre isso que trata a jornada do "clube dos otários". Ao conseguir equilibrar estas duas frentes narrativas com o seu público, Andy Muschietti criou um dos grandes filmes do ano e todos esperamos que o êxito se repita em sua continuação com o elenco adulto.
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6º lugar
Corra!
Dir.: Jordan Peele
Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Catherine Keener
Terceiro filme de terror da nossa lista, Corra! é um exemplar peculiar. O longa de Jordan Peele que chega com tudo na próxima temporada de premiações de 2018 trata de preconceito racial de maneira muito contundente, mas jamais panfletária, o faz usando a válvula do entretenimento e, por isso, o filme é tão eficiente na maneira como consegue dar o seu recado. Conjunto bem sucedido de roteiro e direção harmoniosos, o filme é um As Esposas de Stepford dos nossos tempos ainda mais sombrio que o filme de 1975, sendo certeiro ao mostrar as tensões históricas nas relações entre negros e brancos e como é uma falácia a percepção de que a sociedade contemporânea já superou seus preconceitos enraizados.
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5º lugar
Como nossos pais
Dir.: Laís Bodanzky
Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra
Contemporâneo até a medula e capaz de captar a complexidade dos pequenos movimentos do cotidiano sem parecer enfadonho, Como nossos pais é um pequeno grande filme de Laís Bodanzky que investe na crise dos nossos modelos familiares para tratar da jornada empreendida por Rosa. Cercada por personagens de "carne e osso", Bodanzky explora a incomunicabilidades entre casais, pais e filhos e amantes para mostrar como nos enredamos em relações nunca vividas a contento e timidamente opressoras. O grande poder de Como nossos pais está na maneira como o público consegue se enxergar na tela, até mesmo aqueles que acreditam já ter rompido determinados paradigmas sociais.
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4º lugar
Doentes de Amor
Dir.: Michael Showalter
Elenco: Kumail Nanjiani, Zoe Kazan, Holly Hunter
Gênero em escassez nos últimos anos, as comédias românticas quando entregam exemplares bem feitos nos presenteiam com filmes como Doentes de Amor, um simpático conto contemporâneo sobre as diferenças culturais de um caldeirão típico de uma grande metrópole, tendo como protagonista um artista de stand-up comedy paquistanês que se apaixona por uma americana. A história é baseada na vida do próprio protagonista, o ator Kumail Nanjiani, e tem um roteiro assinado por sua esposa americana Emily V. Gordon. Sem apelar para estereótipos e clichês do gênero, o filme é humano e um refresco no seu nicho cinematográfico. Não é por acaso que Judd Apatow assina sua produção.
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3º lugar
Z: A Cidade Perdida
Dir.: James Gray
Elenco: Charlie Hunnam, Sienna Miller, Robert Pattinson
É incrível a constância na carreira de James Gray, sempre entregando trabalhos irretocáveis. Também impressiona como seus filmes são subestimados pelos festivais onde são exibidos, nas premiações, pelo público e até mesmo em algumas instâncias da crítica. Entregando mais um trabalho marcante em Z: A Cidade Perdida, o cineasta corre o sério risco de ver sua obra mais uma vez esquecida em meio aos filmes mais badalados do ano. Uma pena pois se debruçando na jornada de um explorador inglês em busca dos resquícios de uma civilização perdida na América Latina, James Gray faz um dos seus grandes filmes. As proporções de Z são épicas, mas é interessante perceber como a jornada ambiciosa do seu protagonista nos ajuda a entendê-lo. Gray faz isso com muita sofisticação visual, precisão narrativa e um ótimo elenco.
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2º lugar
A Qualquer Custo
Dir.: David Mackenzie
Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges
Indicado a quatro categorias na edição do Oscar de 2017, A Qualquer Custo não foi um título tão badalado quanto La La Land ou Moonlight, grandes destaques na última edição da premiação, mas, certamente, é dos melhores daquela seleção. Típico western americano, o filme faz um interessante diálogo entre a tradição e a ruptura do seu gênero com personagens que dialogam com a atual situação dos EUA. O elenco encabeçado por Chris Pine, Ben Foster e Jeff Bridges é, como dizem, a "cereja do bolo". Daqueles westerns que dá gosto de assistir por reverenciar as marcas de uma tradição sem esquecer de transportá-las para nossos tempos.
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1º lugar
Mãe!
Dir.: Darren Aronofsky
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer
Mãe!
Dir.: Darren Aronofsky
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer
O filme mais divisivo do ano (como sempre quando o assunto é o cinema de Darren Aronofsky), Mãe! é polarizador. Certamente figurará em listas de melhores de 2017, mas também nas de piores filmes de muita gente por ai. O Chovendo Sapos tomou partido do filme e se posiciona junto com o primeiro grupo. Raras são as obras hoje em dia que causam tamanha comoção. Alegórico e cheio de referências bíblicas (praticamente todo o texto sagrado está ali), Mãe! trata da história de um casal que começa a receber estranhas visitas em sua casa, mas no fundo quer abordar a trágica e, muitas vezes, fadada ao fracasso, experiência humana de cuidar do seu próprio planeta. Muitos enxergam o longa como um ponto vista pessimista de Aronofsky, mas, particularmente, consigo enxergar esperança na humanidade com o filme, especialmente porque a história sempre tende a um recomeço, uma nova tentativa de "reformar a casa", basta evitar os erros das oportunidades anteriores. O grande problema é que a humanidade nunca está disposta a fazer melhor, mas sempre fica a esperança de uma reescrita.
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Elle (2016)
Foxcatcher (2015)
Sob a Pele (2014)
Amor (2013)
Drive (2012)
A Árvore da Vida (2011)
A Rede Social (2010)
Amantes (2009)
Avatar (2009)
Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
Pecados Íntimos (2007)
Filhos da Esperança (2006)
Menção especial para longa ou série documentário
3º lugar
Martírio
Dir.: Vincent Carelli, Tatiana Almeida e Ernesto de Carvalho
Martírio
Dir.: Vincent Carelli, Tatiana Almeida e Ernesto de Carvalho
Ao abordar de maneira poética, mas extremamente responsável a questão da luta das comunidades indígenas pelas terras no Brasil, o documentário Martírio se coloca num patamar de excelência notável. A vivência de Carelli com os Guarani Kaiowá e todo o acervo de passagens e documentações históricas que o filme reúne evidencia um problema do país há anos, a diferença evidente do que um pedaço de chão representa para o grupo e o que ele significa na vida dos poderosos do país.
Assista ao trailer do filme:
2º lugar
Jim & Andy: The Great Beyond, Featuring a very special contractually obligated mention of Tony Clifton
Dir.: Chris Smith
Jim & Andy: The Great Beyond, Featuring a very special contractually obligated mention of Tony Clifton
Dir.: Chris Smith
Disponível na Netflix, o documentário é um resgate do processo criativo de Jim Carrey nos sets do cult O Mundo de Andy, do diretor Milos Forman. No entanto, ao longo das entrevistas com o ator retomando o passado, o filme é mais que isso. O longa mostra a genialidade de Jim Carrey que não estabelecia métodos de interpretação, mas fazia do seu "laboratório" a sua própria arte, além da lucidez e, por vezes, melancolia com que o astro enxerga temas como sucesso, dinheiro e a indústria num momento em que deu uma pausa na carreira de ator.
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1º lugar
Jonas e o Circo sem Lona
Dir.: Paula Gomes
Dir.: Paula Gomes
Contando com uma direção exemplar de Paula Gomes, o filme traz os conflitos entre sonho e realidade na trajetória de um menino que aspirava a vida no circo. O longa tem uma maneira delicada de se apropriar da história do seu protagonista entendendo como as grandes estruturas e instituições sociais podem ser opressoras com o lado lúdico da infância, algo extremamente importante para o desenvolvimento de qualquer sujeito. Afetuoso e sempre buscando a originalidade na sua forma de narrar o mundo pelos olhos do seu sonhador protagonista, Jonas e o Circo sem Lona é uma experiência que marca qualquer espectador.
Assista ao trailer do filme:
Menção especial para série, minissérie ou telefilme
3º lugar
Mindhunter (1ª Temporada)
Criador: Joe Penhall
Dir.: David Fincher, Asif Kapadia, Tobias Lindholm, Andrew Douglas
Elenco: Jonathan Groff, Holt McCallany, Anna Torv
Criador: Joe Penhall
Dir.: David Fincher, Asif Kapadia, Tobias Lindholm, Andrew Douglas
Elenco: Jonathan Groff, Holt McCallany, Anna Torv
Tomo com uma certa decepção Mindhunter não ser lembrado nos próximos Globo de Ouro e SAG Awards, mas é uma dos melhores trabalhos em sua categoria no ano que passou. Com alguns episódios sob a direção de David Fincher, a primeira temporada acabou adotando o tom frio das narrativas policiais do cineasta, uma apropriação pertinente tendo em vista o universo que a série tem como tema. O programa traz um relato histórico sobre a inserção dos estudos de psicologia forense nas investigações dos casos policiais envolvendo serial killers, mergulhando a fundo naquilo que existe por trás de assassinatos brutais. O fôlego da narrativa impressiona.
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2º lugar
Feud: Bette & Joan
Criadores: Ryan Murphy, Jaffe Cohen e Michael Zam
Dir.: Ryan Murphy, Gwyneth Horder-Payton, Liza Johnson, Tim Minear, Helen Hunt
Elenco: Susan Sarandon, Jessica Lange, Alfred Molina
Criadores: Ryan Murphy, Jaffe Cohen e Michael Zam
Dir.: Ryan Murphy, Gwyneth Horder-Payton, Liza Johnson, Tim Minear, Helen Hunt
Elenco: Susan Sarandon, Jessica Lange, Alfred Molina
A produtividade do showrunner Ryan Murphy segue deixando evidências ano após ano, sobretudo porque grande parte do resultado que ele exibe em suas séries é bem positivo. A primeira temporada de Feud, centrada na clássica rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores do filme O que aconteceu com Baby Jane?, é um assombro. Susan Sarandon e Jessica Lange rendem momentos memoráveis como as duas divas do cinema. No entanto, a série não existe apenas para atender ao fetiche da cinefilia, tratando sobre a misoginia e o ageismo enraizados em Hollywood, algo que, curiosamente, acabou dialogando com as denúncias de assédio e estupro nos bastidores da indústria no segundo semestre de 2017. Mais atual que nunca.
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1º lugar
Big Little Lies (1ª Temporada)
Criador: David E. Kelley
Dir.: Jean-Marc Vallée
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern
Criador: David E. Kelley
Dir.: Jean-Marc Vallée
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern
Trama contemporânea, Big Little Lies mostra como podemos ser próximos das pessoas sem conhecer sua verdadeira realidade a fundo, nos revela ainda como a percepção que temos de que "a grama do vizinho" é sempre melhor nem sempre condiz com a realidade. O drama da HBO é uma delícia de assistir sobretudo porque tem um elenco que está em sintonia. Assim como Feud, traz à tona a maneira retroalimentável como as rivalidades femininas são fomentadas, mas também é uma bela história de cumplicidade e fortalecimento de laços numa realidade que sempre parece querer nos distanciar e alimentar atritos e diferenças. É também um triunfo das suas produtoras, entre elas Nicole Kidman e Reese Whiterspoon, que arregaçaram as mangas e fizeram esse sucesso acontecer.
Assista ao trailer da série:
Confira abaixo as demais seleções do Listão 2017:
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