O ano é delas! 5 diretoras que fizeram história em 2017


2017 foi um ano movimentado nos bastidores de Hollywood. As denúncias de assédio sexual e até mesmo estupro que colocaram em evidência práticas de abuso de poder praticadas durante anos na indústria por homens poderosos ganhou uma dimensão inimaginável e, ao contrário do que se poderia esperar anos atrás, tem conseguido de fato trazer transformações significativas nos EUA (ou, pelo menos, "promessas de"). Ao mesmo tempo, por lá, 2017 deu merecido destaque para as mulheres atrás das câmeras, as diretoras, sejam elas veteranas no cinema ou estreantes. Em meio às denúncias contra chefões de estúdio e astros há muitos anos no panteão da indústria, as histórias conduzidas por essas mulheres ganharam visibilidade e estão fazendo com que seus nomes se sobressaíssem numa era que clama por mudanças.

Começando a nossa retrospectiva, vamos lembrar o legado de cinco diretoras e seus notáveis feitos  cinematográficos em 2017, alguns deles, inclusive, se estenderão na temporada de prêmios do cinema que terá início em janeiro de 2018:


#05. Angelina Jolie
Filme: First they killed my father
Disponível na Netflix

A jornada de Angelina Jolie para se firmar como diretora foi longa e precisou a cineasta receber críticas divisivas em seus trabalhos em Na Terra de Amor e Ódio (2011), Invencível (2014) e À Beira Mar (2015) para que ela surgisse vitoriosa em 2017 num pequeno filme, sem estrelas no seu elenco, mas com uma história profundamente pessoal, First they killed my father.

Jolie é uma das maiores estrelas do cinema e deixou um pouco de lado sua carreira como atriz para se dedicar ao sonho de ser diretora que nutria há anos. É certo que seus três longas anteriores exibiam uma realizadora ainda vacilante, mas também era perceptível (e ainda é!) que muita gente torce o nariz para suas empreitadas atrás das câmeras pelo peso de seu nome. No entanto, ao narrar a jornada de uma garota cambojana numa terra devastada por uma guerra que impiedosamente lhe tira o direito à infância, Jolie encontra uma assinatura própria para seu trabalho, uma comunicação peculiar com o seu público e um apelo emocional dos mais sinceros no seu olhar para sua protagonista. First they killed my father traz a vocação humanitária de Jolie e talvez por isso tenha sido seu projeto mais exitoso como diretora.

Leia a crítica de First they killes my father aqui. 


#04. Sofia Coppola
Filme: O Estranho que Nós Amamos
Já em DVD e no Net Now

"Quieta e delicada Sofia". Foi assim que Nicole Kidman descreveu a mais recente diretora adicionada a já extensa seleção de cineastas com quem a estrela de O Estranho que Nós Amamos já trabalhou. A descrição se encaixa perfeitamente com a personalidade da diretora atrás das câmeras, mas também com os filmes que ela concebe com sua assinatura mais do que particular. Reservado, calado, preocupado com o significado dos momentos em que pouca coisa acontece... Assim é o cinema de Sofia, que segue não sendo uma unanimidade e ganhando algumas torcidas de nariz, seja por suas marcas, seja até mesmo pela sua célebre filiação.

Como em outros filmes, em O Estranho que Nós Amamos estamos falando do mundo de Sofia e de histórias que somente ela consegue conceber com seu peculiar olhar para suas protagonistas e a comunicação que esse grupo de mulheres estabelece. O Estranho que Nós Amamos não é um remake com toda a carga pejorativa que esse tipo de produção costuma carregar, mas uma leitura de Sofia Coppola para uma obra literária que já fora adaptada para o cinema num filme tão interessante quanto o seu, mas diametralmente oposto. A diretora marcou o ano não só pela obra que nos presenteou, mas por ter conquistado o prêmio de direção em Cannes, sendo a segunda mulher a receber a honraria do mais notório festival de cinema do mundo.

Leia nossa crítica de O Estranho que Nós Amamos aqui. 


#03. Dee Rees
Filme: Mudbound: Lágrimas sobre o Mississipi
Previsão de estreia nos cinemas brasileiros: 22 de fevereiro de 2018

A presença de Dee Rees na lista é notável. A diretora é representante de um grupo que ainda tem pouco espaço no mainstream hollywoodiano, com Ava DuVernay (de Selma) como principal representante, as diretoras negras. Rees ainda levanta a bandeira da causa LGBT dentro e fora das telas. A cineasta não é novata e ficou conhecida pelo longa Pariah, que ganhou alguns prêmios, e ainda esteve à frente do telefilme da HBO Bessie protagonizado por Queen Latifah. No entanto, nada na carreira  de Dee Rees pode ser comparado a Mudbound, filme que narra a história de duas famílias à beira do Mississipi cujas vidas são entrelaçadas após a Segunda Guerra Mundial. 

Desde que Mudbound foi exibido no Festival de Sundance no início de 2017, o nome de Dee Rees tem estado nas principais rodas de conversa a respeito das premiações do final de ano, sendo, junto com Greta Gerwig, uma séria candidata a receber uma indicação ao Oscar de melhor direção. O filme tem o selo da Netflix, ganhando algumas exibições especiais em cinemas dos EUA, mas já disponível no catálogo do site por lá (aqui, chegará antes nos cinemas). Apesar das críticas favoráveis, Dee Rees tem que vencer a resistência da Academia com os filmes que levam o selo da empresa e a omissão de Beasts of No Nation no Oscar 2016 é um caso emblemático. Todavia, a trajetória do filme até aqui tem sido bem positiva. 

Assista ao trailer de Mudbound aqui. 


#02. Greta Gerwig
Filme: Lady Bird
Previsão de estreia nos cinemas brasileiros: 05 de abril de 2018

Uma das principais apostas da próxima temporada de premiações, Greta Gerwig faz sua segunda incursão nos cinemas como diretora de longas com Lady Bird e guarda a promessa de concorrer ao prêmio de melhor direção no próximo Oscar. Gerwig conseguiu o feito de ter o filme com as melhores avaliações da crítica em 2017, conquistando uma porcentagem elevada de aprovação em agregadores de críticas como o Rotten Tomatoes. A diretora pertence a um grupo de artistas que têm resistido às investidas do "cinemão" norte-americano e tem chamado a atenção da crítica no nicho indie como é o caso do próprio Noah Baumbach, cujos longas Frances Ha e Mistress America Gerwig protagonizou com ótimos desempenhos. 

No longa, Gerwig conta com a interpretação de Saoirse Ronan, que deve concorrer ao Oscar de melhor atriz, contando a história de uma jovem no seu último ano de escola em Sacramento na Califórnia sonhando em sair da sua cidade para conquistar a independência em Nova York. O filme promete fazer a festa em premiações do cinema independente (foi indicado em quatro categorias do Independent Spirit Awards, apesar de nenhuma delas ser direção), resta saber até que ponto a Academia está disposta a abraçar Lady Bird. As possibilidades são concretas e Gerwig já tem conseguido alguns prêmios na trajetória do filme, vencendo recentemente o National Board of Review, importante premiação antecessora do Oscar, na categoria melhor direção. Lady Bird também venceu o prêmio de melhor filme na associação de críticos de Nova York. Caso Greta vença o favoritismo dos colegas Guillermo DelToro (A Forma da Água) e Christopher Nolan (Dunkirk) seria a segunda mulher a levar o prêmio de direção na história da Academia (a primeira e única fora Kathryn Bigelow por Guerra ao Terror).  

Assista ao trailer de Lady Bird aqui. 


#01. Patty Jenkins
Filme: Mulher Maravilha
Já disponível em DVD, Blu-Ray e no Net Now

Goste ou não goste de Mulher Maravilha, goste da Marvel ou da DC, algo é incontestável, Patty Jenkins mexeu com as estruturas de um nicho dominado por homens durante muitos, mas muitos anos, o terreno dos blockbusters/ filmes de super-heróis. Assumindo a direção de um projeto do universo expandido da DC Comics na Warner, que ainda não convenceu a crítica e parte dos fãs, Jenkins é a única comandante desse barco, desde O Homem de Aço, a assumir um filme bem sucedido entre críticos e nas bilheterias. O êxito de Mulher Maravilha, maior arrecadação de um filme comandado por uma mulher (cerca de US$ 820 milhoões mundialmente) fez com que Jenkins tivesse "moral" para fazer o que muitos dos seus colegas do sexo oposto já faziam há anos: negociar o controle criativo e um contrato financeiramente vantajoso para assumir a sequência Mulher Maravilha 2. E ela conseguiu com muita moral!

A direção de Jenkins faz toda a diferença sim num filme de uma super-heroína que, na contramão do cinismo dominante nesse nicho cinematográfico, abraça a ingenuidade da sua personagem na temática do heroísmo, algo que nos faz lembrar da razão pela qual esses personagens cativam os corações de tantas crianças. Mulher Maravilha não quer apenas divertir, mas inspirar, tal qual exemplares do nicho como Superman, o filme e Capitão América: O Primeiro Vingador. É uma pena que a maioria das conversas sobre essas obras hoje em dia se limitem às picuinhas Marvel x DC e muita gente não consiga enxergar quão especial Mulher Maravilha é, sobretudo por não chamar a atenção (e muitas vezes nem ter consciências) das pontuais e inteligentes decisões de Jenkins e cia. A diretora faz um filme que, assim como outro grande exemplar do gênero nesse ano, Logan, olha mais para si, para a sua personagem e para o que ela representa do que para o universo de uma ambiciosa franquia de super-heróis cheia pontes futuras. Talvez seja um modelo que a Warner/DC possa mirar pelos próximos anos esquecendo um pouco essa ideia de universo expandido, adotando de fato uma política que historicamente sempre foi cara à empresa, dar espaço para a autonomia completa dos seus diretores.

Leia a nossa crítica de Mulher Maravilha aqui. 

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Chovendo Sapos: O ano é delas! 5 diretoras que fizeram história em 2017
O ano é delas! 5 diretoras que fizeram história em 2017
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