Angelina Jolie faz seu melhor trabalho como cineasta em 'First They Killed My Father'


Uma das maiores estrelas de Hollywood do seu tempo, Angelina Jolie sempre demonstrou interesse muito grande de se tornar cineasta, um anseio que cresceu a ponto dela, inclusive, deixar por diversas vezes sua carreira como atriz em segundo plano para se aventurar atrás das câmeras, terreno relativamente ingrato para mulheres dada às diferenças de tratamento que costumam ser reservadas a diretoras. As empreitadas de Jolie nessa função até então foram divisivas. Na Terra de Amor e Ódio, Invencível e, sobretudo, À Beira Mar revelaram pouco brilho e conflitantes com a própria biografia da realizadora. First They Killed my Father muda um pouco esse cenário. O longa que chega no Brasil diretamente pela Netflix nos apresenta uma diretora polida, contendo qualquer tipo de afetação que não sirva a sua história, e completamente implicada em tudo aquilo que é mostrado ao espectador através das suas imagens. 

No longa, não apenas dirigido, mas roteirizado por Jolie junto com a protagonista da história fora das telas, a sobrevivente cambojana Loung Ung, acompanhamos a jornada de uma garota no Camboja de 1975. Quando o regime comunista Khmer Vermelho assume o país, a garota Loung Ung é obrigada a deixar sua casa e seguir para o interior do país onde é separada da sua família. Na jornada, ela acaba entrando num campo de concentração no qual passa a ter contato com a completa desumanização do homem, a brutalidade da guerra e a fome. 


Optando por trazer para First They Killed my Father a perspectiva da sua pequena protagonista sobre os eventos, Jolie usa de maneira inteligente recursos como a câmera subjetiva, tornando a lente do equipamento os olhos de Loung para os eventos que vivencia, além de manter a produção de imagens sempre ao nível dos ombros da criança. Ao mesmo tempo, o roteiro co-assinado pela diretora é coerente com a proposta ao exibir o desenrolar dos acontecimentos através de conversas fragmentadas acompanhadas pela curiosidade da menina ou então interrompidas pela típica dispersão da atenção infantil para o que está ao seu redor. 

First They Killed my Father também se beneficia do envolvimento de Jolie com a história da sua protagonista tendo em vista que dois dos filhos da cineasta, entre eles Maddox que participa da produção do longa, foi adotado no Camboja e seguiu em sua educação tendo contato com a cultura do país. Assim, é perceptível no longa todo o fascínio e conhecimento da diretora com a cultura do Camboja, é algo que está presente plano a plano no filme. O longa exibe o respeito da sua realizadora pela história daquele país e pelo que passou seus habitantes, fazendo com que a jornada da pequena Loung seja emocional e cheia de empatia sem que com isso Jolie pareça querer fazer sensacionalismo. O filme é um produto claro da Jolie humanista que conhecemos e da sua luta pela preservação da infância frente ao caráter corrosivo da guerra e de toda sorte de abuso. No entanto, apesar de ser carregado de implicação pessoal, no filme, todas as emoções são dosadas com muito cuidado pela diretora, que não é fria com a biografia da sua pequena protagonista, mas também sabe respeitar seus sentimentos sem forçosamente explorá-lo em cores mais fortes. 

Dimensionando a experiência de uma uma infância usurpada de maneira abrupta, First They Killed my Father é o maior acerto da cineasta Angelina Jolie até então. Diferente de um longa como Invencível, por exemplo, é perceptível nesse longa, candidato oficial do Camboja a uma vaga na categoria melhor filme estrangeiro do Oscar em 2018, uma obra cujo tom, olhar e temática dialoga com a biografia da sua diretora e roteirista. A visão de mundo de Angelina Jolie está está em todos os frames do filme. 

First They Killed my Father, 2017. Dir.: Angelina Jolie. Roteiro: Angelina Jolie e Loung Ung. Elenco: Sareum Srey Moch, Phoeung Kompheak, Sveng Socheata, Mun Kimhak, Heng Dara, Khoun Sothea, Sarun Nika, Run Malyna, Oun Srey Neang. Netflix, 136 min. 

Assista ao trailer do filme:

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Chovendo Sapos: Angelina Jolie faz seu melhor trabalho como cineasta em 'First They Killed My Father'
Angelina Jolie faz seu melhor trabalho como cineasta em 'First They Killed My Father'
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