Onze anos depois de Vício Inerente, o cineasta Paul Thomas Anderson retorna às telas com uma nova adaptação de uma obra do escritor Thomas Pynchon. A partir do romance Vineland, o diretor de dramas carregados e cheios de estilo como Magnólia, Sangue Negro, O Mestre e Trama Fantasma retorna para as telas com Uma Batalha após a Outra, uma trama igualmente densa, mas que abre novas perspectivas na carreira do cineasta, permitindo que ele desbrave abordagens ausentes até então na sua filmografia.
Uma Batalha após a Outra faz o público imergir na jornada dos seus personagens a partir de um prólogo conciso e eficiente protagonizado por um trio de personagens, os revolucionários Bob e Perfídia, Leonardo DiCaprio e Teyana Taylor, respectivamente, e o policial Steven Lockjaw vivido por Sean Penn. Peças importantes do grupo rebelde armado French 75, responsável por ações contra poderosos e em prol de oprimidos como negros e imigrantes, Bob e Perfídia têm uma filha chamada Willa. O French 75 é descoberto e a família separada. Perfídia não tem um destino muito feliz, enquanto Bob vira pai solo da adolescente Willa e após 16 anos é descoberto por Lockjaw, que faz de um tudo para capturar o revolucionário e sua filha.
Com Uma Batalha após a Outra, Paul Thomas Anderson faz um filme que dialoga com o tempo presente ressignificando a ideia de que vivemos um contexto político mais difícil do que aquele vivenciado em outras décadas. Para o diretor, esse modelo de gestão estatal fascista, segregador e violento que vemos ser implementado em países como os EUA é cíclico e apenas se metamorfoseia ao longo de décadas. A essência é sempre a mesma, legando para a sociedade dinâmicas cíclicas nas quais estratos sociais oprimidos respondem de forma radical a ações criminosas institucionalizadas.
Engana-se quem pensa que Anderson traz todo esse discurso enérgico sobre nossos tempos na forma de um filme sisudo e marcado por uma constante gravidade. Ao longo de todo Uma Batalha após a Outra, o cineasta trafega por gêneros e emoções diversas. Anderson faz um filme que sabe ser ácido, certeiro em sua crítica, mas cheio de senso de humor e humanidade para as relações entre os seus personagens. Ao mesmo tempo, o longa também é um raro registro de Anderson como um diretor capaz de realizar cenas de ação que envolvem perseguições de carro, por exemplo, não devendo nada ao melhores realizadores do gênero.
No elenco, é difícil destacar uma atuação da outra, é um filme marcado pelo êxito coletivo. No entanto, cabe mencionar que Leonardo DiCaprio exibe aqui uma das suas melhores facetas quando leva seus personagens ao extremo do absurdo pela falta de sanidade e pelo uso de algumas substâncias (vide O Lobo de Wall Street); Sean Penn está perfeito como o vilão da trama, perigosíssimo na mediocridade das suas ambições de supremacista branco; Chase Infinity é uma revelação e tanto como a filha do protagonista, segurando as pontas de um terceiro ato dificílimo pela carga de tensão; e Teyana Taylor tem uma presença magnética mesmo que sua participação na história seja apenas nos primeiros minutos da trama.
Em toda a sua filmografia, Paul Thomas Anderson talvez tenha alcançado sua melhor comunicação com o público em Uma Batalha após a Outra, um filme que é perfeitamente coerente com os temas, as ambições e a assinatura exibida em sua carreira até aqui, mas que o leva a um novo tipo de cinema e que se revela "palatável" a públicos que talvez rejeitem o hermetismo e alguns dos seus clássicos personagens repugnantes como Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis em Sangue Negro) ou Freddie Quell (Joaquin Phoenix em O Mestre). Isso pode ser convertido em muitos prêmios na temporada que se aproxima, inclusive o tão reivindicado Oscar de melhor diretor pelos seus fãs. No entanto, o mais importante é que aponta para uma das tantas qualidades da trajetória do cineasta, sua evidente capacidade de se reinventar e de surpreender o público.
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