No tocante aos lançamentos cinematográficos, a era dos streamings teve seu fim anunciado há alguns anos atrás, ficando para trás o seu momento mais interessante que foi a pandemia. Não é de hoje que os filmes lançados diretamente em serviços como Netflix e Prime Video deixam a desejar, ao menos na sua massiva maioria. Echo Valley lançado recentemente na Apple TV+ é exemplar nesse sentido.
Julianne Moore é a única que parece injetar algum tipo de iniciativa para conferir dignidade a este drama. No mais, Echo Valley "escorrega" por completo em sua representação pedestre da dependência química. Os atores Sydney Sweeney e Domhnall Gleeson vivem estereótipos histriônicos de uma adicta e de o traficante de drogas que parecem saídos de um drama "barato" dos anos 1990. Como se não bastasse, o próprio roteiro de Brad Ingelsby parece se contentar com um tratamento mais superficial para esse núcleo. No caso de Claire vivida por Sydney Sweeney, isso é ainda mais complicado pois a redução da personagem a seu vício revela um juízo de valor datado por parte de todos os envolvidos nessa composição, o diretor, o roteirista e a atriz. Não há qualquer resquício de humanidade nessa personagem.
É verdade que Echo Valley é muito mais empático com o "lado" de Kate, e nem teria como ser diferente. Claire praticamente leva sua mãe à ruína. Nesse sentido, não é exagero dizer que Julianne Moore detém a responsabilidade de conferir algum tipo de complexidade e seriedade ao projeto, evitando que ele se transforme por completo em uma espécie de filme "B" do gênero drama familiar. Muitas vezes sozinha em cena, a veterana tem 'solos" preciosos para calibrar as emoções de uma personagem que lida com problemas de saúde mental decorrentes do luto e da culpa pelos descaminhos da filha. Em alguns momentos, Moore salva o filme dando alguns contornos ao drama de Kate, mesmo quando o roteiro e a direção do projeto conduz a trama a caminhos absurdos, entre eles um desfecho que condena a protagonista a um sofrimento ininterrupto.
A percepção de Echo Valley sobre dependência química é "torta", assim como é questionável a visão melodramática do longa sobre a maternidade como um calvário de sacrifícios. É difícil salvar o filme de Michael Pearce e reconhecer algum ponto de mérito para além dos esforços de Julianne Moore. O desequilíbrio no resultado do trabalho dos seus atores (Sweeney e Gleeson em seus piores momentos) e as diversas faltas do roteiro e da direção transformam Echo Valley em um drama cheio de inconsistências e extremamente datado na abordagem de temas tão delicados e que merecem um olhar mais complexo do que aquele que o filme lança.
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