Wes Anderson sempre foi um cineasta com marcas narrativas e estéticas reconhecíveis e replicadas em todos os seus filmes. Com O Esquema Fenício representando o mais recente capítulo da sua carreira, pode ficar notório para muitos que há um certo desgaste no tipo de narrativa que o realizador propõe. Outros diretores já passaram por fase semelhante - podemos citar Woody Allen em determinado ponto da sua trajetória, por exemplo - e esse parece o momento do público dizer ao diretor: "já deu".
Em alguns casos, a repetição de características estéticas e narrativas é um indicativo de coerência e singularidade em um projeto artístico no cinema. Na situação de Wes Anderson, entretanto, as repetições estilísticas chegam em O Esquema Fenício como uma falta de variação no modo de contar histórias. Se antes o jeito de agir cartunesco dos personagens e a obsessão do diretor com o alinhamento de objetos em seus enquadramentos impressionavam, aqui já não surtem mais um efeito superlativo em um espectador calejado com as histórias do diretor.
Desta vez, Anderson até se debruça sobre um gênero pouco comum em sua carreira, o "cinema de espionagem", mas a personalidade do artista é tão forte que se sobrepõe àquilo que poderia ser o diferencial de O Esquema Fenício, a inusitada combinação das suas marcas com as demandas específicas para esse tipo de história. O longa é centrado na relação entre um empresário de passado duvidoso que acaba de se recuperar de um acidente aéreo mortal e sua filha, uma freira. Ele transforma a jovem na sua única herdeira e empreende com ela uma viagem por várias regiões do globo a fim de firmar algumas negociações.
Em alguns momentos, O Esquema Fenício é bem-sucedido nesse intento de fazer Wes Anderson mergulhar em uma trama cheia de traições, fazendo, por exemplo, o diretor apresentar a sua versão do que seria uma cena na qual um corpo humano é mutilado, algo que vira lúdico aos olhos do cineasta. No entanto, de maneira geral, O Esquema Fenício é, no final das contas, o mesmo Wes Anderson de sempre e, no lugar de surpreender o espectador com uma variação interessante do seu estilo, acaba oferecendo repetição.
Há uma ótima dinâmica entre os protagonistas, pai e filha interpretados respectivamente por Benicio del Toro e Mia Threapleton. Há que se destacar também a participação de Michael Cera como um tutor contratado pelo personagem de del Toro, rendendo alguns dos momentos mais bem humorados do filme (ele é ótimo e rouba a cena). O restante do elenco é formado por diversas estrelas e figuras recorrentes na filmografia do realizador (Tom Hanks, Scarlett Johansson) que mais servem para distrair com suas aparições na tela do que para conferir algum tipo de organicidade em suas interações. No mais, O Esquema Fenício exibe aquela usual competência dos filmes do cineasta em departamentos como direção de arte, figurino e a trilha sonora com a assinatura de Alexander Desplat.
Ninguém espera que Wes Anderson mude "do dia para a noite", mas com um material como O Esquema Fenício era de se esperar que o momento do diretor oferecer alguma variação dentro do seu estilo chegasse, tirando-o de uma zona de conforto, o que não é o caso. O novo longa do realizador não deixa de ter os seus méritos, mas é excessivamente investido em obedecer a cartilha do artista, deixando o espectador mais "calejado" com seus filmes no território incomodo da indiferença.
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