Depois de Guerra Civil, o diretor Alex Garland parece que "pegou jeito" pelo filme de guerra e logo engatou Tempo de Guerra, longa que faz em parceria com Ray Mendonza, ex-fuzileiro naval do exército americano, a partir de experiências do próprio durante a guerra do Iraque no início dos anos 2000. Tempo de Guerra propõe ser uma experiência cinematográfica imersiva, capturando com o máximo de realismo a experiência de um grupo de jovens soldados americanos logo depois que entram em uma emboscada armada em um território iraquiano.
A imersão em uma guerra que Garland já proporcionava em Guerra Civil é levada à última potência em Tempo de Guerra e a participação de Mendonza na execução da ação deste filme parece ser determinante para o resultado. Tempo de Guerra é uma vivência crua, por vezes difícil de ver, que capta com precisão a violência do campo de batalha, as horas de espera por socorro e o risco ao qual todos estão submetidos em razão de segundos.
Com um jovem elenco formado por atores do momento como Joseph Quinn (do futuro Quarteto Fantástico), Charles Melton (Segredos de um Escândalo), Will Poulter (Midsommar) e Kit Connor (da série Heartstopper), Tempo de Guerra consegue o melhor trabalho possível em registrar a experiência da zona de conflito. Os atores passam credibilidade na vivência e Garland e Mendonza realizam um projeto com o melhor aparato técnico (exímia captação de som, ótimo uso da câmera, montagem etc.).
Apesar de toda a excelente execução, Tempo de Guerra é falho no âmbito discursivo. As pretensões do diretor com o projeto são dúbias e fazem o filme cair em uma zona cinzenta de irrelevância em tempos atuais difícil de ser resgatado. Por um lado, Garland e Mendonza parecem querer frisar como a vivência daqueles jovens é traumática. No entanto, o longa parece um comentário descontextualizado politicamente. Para além da ação, não há qualquer reflexão sobre o uso da guerra pelos EUA naquela época ou agora para além da óbvia crítica à violência. Além disso, ao enaltecer em seu desfecho os protagonistas daquela história como heróis, o filme "escorrega" na "boa e velha" propaganda militarista, mesmo que não seja esta a intenção do projeto.
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