As Aventuras de uma francesa na Coreia marca o reencontro da atriz Isabelle Huppert com o cineasta coreano Hong Sang-soo, com quem ela já havia trabalhado em A Visitante Francesa de 2012 e A Câmera de Claire de 2017. Desta vez, a atriz interpreta Iris, uma francesa que ganha algum dinheiro ensinando francês por intermédio de um método peculiar na Coreia do Sul. Ela usa cartões que, após um encontro trivial com seus alunos, destacam situações vivenciadas nessas aulas. Iris cria uma curiosa conexão com um rapaz com quem divide um apartamento e para quem também dá lições sobre sua língua nativa.
Em alguns casos, os ruídos naturais serão determinantes para reforçar algumas barreiras (as aulas de Iris), em outros serão irrelevantes na construção de alguns laços (a relação da protagonista com o jovem coreano Inhuk), frisando o caráter dúbio, maleável e complexo da linguagem. A barreira linguística é um desafio e inviabiliza determinadas relações, há situações intraduzíveis para Iris, como os modos de ser do coreano ou os poemas inscritos em toda a cidade de Seul. No entanto, o mesmo obstáculo comunicativo, apesar de presente, não é determinante para que Inhuk tenha completa identificação com Iris, uma intimidade que jamais demonstra ter com a própria mãe, alguém com quem ele compartilha toda uma cultura.
Com sua narrativa minimalista e dada a repetições do cotidiano, Hong Sang-soo traz um tratamento complexo, bem-humorado e sensível sobre os temas que esse filme convoca. O diretor tece considerações sobre aquilo que aproxima e dificulta o contato humano e como o aprendizado da língua está apenas na superfície desse "acesso ao outro".
Em As Aventuras de uma francesa na Coreia, Hong Sang-soo faz um longa repleto de camadas e humor sobre o mais básico dos instintos humanos, o esforço de estabelecer conexão com um outro indivíduo, a curiosidade e o desejo de entender e se aproximar de um modo de ser diferente do seu, lançando um olhar especial para personagens que não temem ao chamado desses instintos. Como convém ao cineasta, ele realiza um filme que não chama a atenção para si, aparenta ser banal ou enigmático, mas que, no fim das contas, é muito evidente e simples com aquilo que tem a dizer para o seu espectador.
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