Baseado na obra literária de Edward Ashton, Mickey 17 é uma mistura de sci-fi e sátira política que marca o retorno do cineasta coreano Bong Joon-ho depois do fenômeno Parasita, vencedor do Oscar de melhor filme na edição de 2020 da premiação da Academia. Marcado por constantes adiamentos do seu lançamento e pela dúvida a respeito da influência da qualidade final do longa nessas decisões, Mickey 17 estreia enfim nos cinemas com um resultado que não chega a ser catastrófico, mas que pode ser moderadamente decepcionante para quem nutria expectativas sobre esta incursão de Bong Joon-ho no cinema de língua inglesa.
Em Mickey 17, Robert Pattinson interpreta o personagem-título, uma das cópias dispensáveis de Mickey Barnes, um sujeito que se alista para uma missão espacial empreendida por um político de inclinações duvidosas. A cada novo teste perigoso realizado pela expedição que resulta na morte do personagem de Pattinson, uma nova versão dele é impressa e um outro ciclo de experimentos é iniciado em prol da colonização de um planeta invernal. Acontece que durante o processo um movimento revolucionário acaba sendo fomentado quando Mickey 17 é dado como morto e uma nova cópia do personagem é feita.
Mickey 17 consegue preservar aquele tom peculiar entre comédia e crítica social e política peculiar nos trabalhos de Bong Joon-ho. Ainda assim, é um filme que parece disperso entre os seus diversos núcleos de personagens e a jornada do próprio protagonista, não aprofundando seu comentário nos tópicos que coloca em discussão como a ética de experimentos científicos, a colonização e o uso de crenças para a manipulação política.
Mickey 17 tinha diversos elementos que prometiam um retorno promissor de Bong Joon-ho pós-Parasita. É possível que o filme agrade a alguns fãs do gênero e do diretor. Particularmente, ainda que tenha os seus bons momentos, o longa é um trabalho morno do cineasta, bem distante da efervescência criativa, do discurso enérgico e da complexidade psicológica de seus trabalhos anteriores.
COMENTÁRIOS