Código Preto é o tipo de entretenimento para adultos difícil de ser visto em cartaz nos cinemas hoje em dia. A trama de espionagem é pretexto para o diretor Steven Soderbergh e o roteirista David Koepp discutirem a confiança em relações amorosas com o refinamento estético que é típico do diretor e a atenção à costura de uma trama que é capaz de oferecer uma narrativa inteligente, mas sem a pretensão de transformar o projeto em um estudo psicológico ambicioso. Tudo aqui é puro descomprometimento do diretor, do roteirista e do elenco, mas eles procuram entregar um projeto divertido de forma inteligente, coesa e com muita senso cinematográfico.
A trama de Código Preto tem muita agilidade. Enquanto Blanchett e Fassbender oscilam na tela a cumplicidade de George e Kathryn com os segredos que ambos tentam camuflar através das palavras de alerta "código preto", o espectador é surpreendido a todo momento com ambos. George e Kathryn parecem sempre estar um passo adiante do público, dos seus coadjuvantes de tela e também um do outro. Blanchett e Fassbender sustentam muito bem a inteligência do casal, ao mesmo tempo em que constroem os laços afetivos e a faísca sexual latente entre George e Kathryn.
Todos os personagens de Código Preto parecem viver sob a tensão da pressão psicológica que é nunca confiar em ninguém, por vezes nem mesmo em seus parceiros. Como conseguir estabelecer vínculos e relações nesse contexto? Os protagonistas são um modelo na conquista desse desafio, mas até que ponto tudo é tão perfeito na vida de George e Kathryn? Esta é a grande provocação que Código Preto sustenta até o fim e que Soderbergh e sua trupe conseguem manter coerente com muito talento.
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