Crítica: O Brutalista

 


O Brutalista de Brady Corbet (de A Infância de um Líder e Vox Lux) narra a história do arquiteto Lázló Tóth, judeu húngaro imigrante nos EUA logo depois de ter sua vida esfacelada pela Segunda Guerra Mundial e pela campanha anti-semita de Adolf Hitler. Tóth acaba caindo nas graças de um milionário estadunidense chamado Harrison Van Burren após um mal entendido na casa deste. Van Burren fica impressionado com a reforma que Tóth faz em sua biblioteca, um projeto encomendado ao arquiteto pelo filho do ricaço. Van Burren então contrata Tóth para que ele erga uma grande edificação em homenagem à sua falecida mãe. 

O longa de Corbet concorre a 10 Oscars, incluindo a estatueta de melhor filme. O Brutalista assume uma perspectiva poucas vezes vista nas telas sobre os temas que aborda. Ao contextualizar historicamente a imigração de judeus para os EUA em meados do século passado, Corbet escancara como a realidade dessa população passou longe da visão romantizada que costuma ser contada sobre a vinda de povos estrangeiros para o país em busca do sonho americano. Quando chega aos EUA, Tóth e a esposa enfrentam uma xenofobia escancarada e a subutilização dos seus respectivos talentos profissionais, recorrendo ao consumo abusivo de drogas para suportar a dor de muitas situações vivenciadas que somatizam aos traumas da guerra. 

O Brutalista é dividido em duas partes interrompidas por um intervalo de cerca de 10 minutos nos moldes das exibições cinematográficas da primeira metade da década passada. A primeira parte de O Brutalista é primorosa. Nela, Corbet narra os primeiros anos de Tóth nos EUA. O filme é conduzido pela interpretação magnífica de Adrien Brody, que conduz com uma humanidade à flor da pele a jornada deste personagem, e seu encontro com o milionário Harrison Lee Van Buren vivido por Guy Pearce (indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante). A primeira parte de O Brutalista é monumental, dirigida com muita segurança e personalidade por Corbet como uma narrativa grandiosa sobre a vida de um personagem que representa a síntese de uma população e de um contexto histórico que possui paralelos com os EUA hoje. Não dá para deixar de associar a situação vivenciada por Tóth e sua família com o recente drama de imigrantes, sobretudo latinos, nos EUA da nova era Trump. 


Infelizmente, a segunda parte de O Brutalista não é marcada pela mesma potência do seu início. A chegada de Erzsébet, esposa de Tóth vivida por Felicity Jones (indicada ao Oscar como atriz coadjuvante), faz o longa se perder em um emaranhado de situações que rivalizam com a própria trajetória do protagonista. A sutileza e a ausência de pressa em desenvolver sua história, marcas da primeira parte, são sucedidas por eventos muitas vezes mal amarrados (como a revelação de uma violência sofrida por Tóth e cometida pelo seu mecenas Van Burren). A segunda parte conduz a história ao epílogo preguiçoso e clichê do protagonista idoso sendo homenageado pelo seu legado. 

Há muitos méritos artísticos e técnicos na obra: direção de arte, fotografia e trilha sonora irretocáveis e condizentes com as ideias lançadas pelo diretor. O design de produção e a fotografia valorizam a genialidade das formas criadas por Tóth e a trilha sonora sabe acompanhar as emoções pulsantes do filme. É uma pena que O Brutalista não encontre o mesmo brilhantismo da primeira parte do filme quando tem que encerrar a sua história, caindo em obviedades e deixando lacunas na sua trama que em nada lembram tudo aquilo que conquista o espectador logo no início do filme. Resta como irretocável a performance magnífica de Adrien Brody, que deve levar sim o segundo Oscar da sua carreira por este trabalho aqui.  



Avaliação


Título original: The Brutalist
Ano: 2024
Duração: 214 minutos
Nos cinemas
Direção: Brady Corbet
Roteiro: Brady Corbet e Mona Fastvold
Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Alessandro Nivola, Stacy Martin, Raffey Cassidy, Isaach de Bankolé, Ariane Labed, Michael Epp. 

Assista ao trailer do filme:





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Chovendo Sapos: Crítica: O Brutalista
Crítica: O Brutalista
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