Um dos destaques da temporada de premiações de 2025, Conclave traz o cineasta alemão Edward Berger (responsável por Nada de Novo no Front, filme vencedor de 4 Oscars em 2022) para uma produção mais "global" com um elenco de atores conhecidos e falado em língua inglesa. Conclave é na essência um thriller político ambientado em uma fictícia sucessão papal na qual o interesse do diretor Berger e do roteirista Peter Straughan está nos conchavos e arranjos políticos por trás da eleição de um novo líder para a Igreja Católica.
Em Conclave, Ralph Fiennes interpreta o cardeal Lawrence, mediador de todo o processo de votação, sendo responsável pela escuta de todos os potenciais candidatos e seus eleitores, mas também descobrindo alguns segredos comprometedores de alguns deles. Em dado momento, pela correção e seriedade com a qual assume o processo de votação, Lawrence acaba se tornando também um forte candidato a assumir o posto de papa, a princípio a contragosto pois antes do líder anterior falecer ele já questionava a sua própria vocação e pensava em renunciar ao posto na Igreja.
Conclave é uma adaptação do best-seller de Robert Harris, autor de livros como Pompeia, O Oficial e o Espião e Munique. Na superfície, o longa parece um "mero" entretenimento classe A, empregando muito bem todos os elementos do thriller político em um contexto aparentemente incomum ao gênero, o Vaticano, mas Conclave tem muito mais a dizer sobre o cenário de muitas nações atualmente do que aparenta.
Ao abordar os atritos entre as alas progressistas e conservadoras e os temores da ascensão de um grupo reacionário na Igreja Católica, o longa de Edward Berger dimensiona a desilusão sobre a instituição sentida pelo próprio cardeal Lawrence após as mudanças promovidas por um papa mais reformista. Os tempos de transformações são acompanhados por forças repressoras como costuma ser o ciclo de lideranças políticas fora do Vaticano. Assim, Conclave encontra paralelos no mundo atual com a popularidade de uma extrema direita marcada por ideias separatistas, preconceituosas e desumanas. Nesse contexto, Lawrence e alguns colegas que compartilham sua visão, como Bellini, papel de Stanley Tucci, percebem que só conseguem fazer alguma diferença frente a esse cenário crítico estando dentro da instituição e fazendo algumas concessões em prol de algo maior: a urgência de que a Igreja Católica atualize dogmas e ações a fim de ser preservada e seguir relevante.
Além de desenvolver muito bem o tema central e articular-se de forma exemplar com as marcas do thriller político, Conclave empreende esforços louváveis em departamentos como a direção de fotografia, registrando muito bem as disposições dos grupos de religiosos naquele cenário, e a trilha sonora de Volker Bertelmann através de composições que dimensionam de forma primorosa toda a tensão de uma trama conspiratória que vai sendo tecida na tela. Completa a chave de méritos do longa o ótimo trabalho do seu elenco encabeçado por veteranos como Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini.
Avaliação
Título original: Conclave
Ano: 2024
Duração: 120 minutos
No cinema
Direção: Edward Berger
Roteiro: Peter Straughan
Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, Isabella Rossellini, John Lithgow, Sergio Castellitto, Carlos Diehz, Lucian Msamati, Jacek Koman, Brian F. O'Byrne, Rony Kramer.
Assista ao trailer do filme:
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