Crítica: Baby


Em Baby, Wellington passou parte da sua vida em um centro de detenção para jovens. Com uma relação complicada com os pais, o rapaz acaba ficando sem rumo quando sai da instituição. É então que ele conhece Ronaldo, um homem de quarenta anos que ganha a vida prestando "serviços sexuais" e como fornecedor de drogas no centro de São Paulo. Ronaldo passa a ser uma espécie de mentor para Wellington apelidando-o de "Baby". 

Baby de Marcelo Caetano explora a relação entre homens gays marcada por diferenças consideráveis de idade. Ronaldo acaba sendo uma espécie de daddy para Wellington, sendo o homem mais experiente com quem o rapaz estabelece vínculos afetivos e por quem tem atração sexual ao mesmo tempo que representa uma figura paterna sendo peça fundamental do seu amadurecimento e preparação para a vida.  


No centro do excelente drama de Caetano está o conflito geracional entre homens gays com mais de quarenta anos e àqueles que pertencem a uma geração Z. O roteiro de Caetano e Gabriel Domingues fortalece o laço entre Baby e Ronaldo e utiliza esta relação como uma inteligente e sensível análise sobre distintas vivências homoafetivas. Enquanto homens como Ronaldo e, posteriormente, Alexandre, personagem vivido por Marcelo Várzea, têm vidas marcadas pela solidão e históricos de relações heterossexuais antes de "sair do armário", Baby e seus amigos são "gays assumidos" desde muito cedo, contando com a irmandade da comunidade LGBT+ para enfrentar toda a dificuldade que é encarar a sociedade preconceituosa como homens gays ainda adolescentes. 

Sem julgamento, Marcelo Caetano faz um retrato belíssimo, mas cru, real, sobre o encontro das duas gerações em questão a partir do match de dois personagens muito bem construídos pelo roteiro e defendidos por ótimos atores, a dupla João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro. Mariano faz Baby amadurecer aos olhos do público durante as quase duas horas de projeção do longa. Baby começa o filme ingênuo, mas acuado e reticente a qualquer afeto em razão do histórico familiar de rejeição, e termina a história como um rapaz alegre e preparado para a vida. João Pedro Mariano constrói com muita sensibilidade esta jornada do protagonista. Por outro lado, Ricardo Teodoro traz para Ronaldo a aspereza daquela representação típica da masculinidade do nosso imaginário para revelar um homem extremamente sensível e essencialmente protetor que se apaixona de fato por Baby.  


Com Baby, Marcelo Caetano, que já havia realizado o excelente Corpo Elétrico em 2017, faz um belo filme sobre LGBTs abordando de forma complexa e humana relações afetivas e sexuais entre homens. Baby conta uma belíssima história de amor, amizade e conexão. A relação entre Baby e Ronaldo, os protagonistas deste drama, é aquele tipo de vínculo que fica para toda a vida e marca pelos aprendizados, transformando as duas partes envolvidas em alguém melhor. De quebra, o realizador faz um acertado registro de construção identitária subjetiva e social da comunidade LGBT+ nas últimas décadas localizada no tempo presente. 


Avaliação



Título original: Baby
Ano: 2024
Duração: 107 minutos
No cinema
Direção: Marcelo Caetano
Roteiro: Marcelo Caetano e Gabriel Domingues
Elenco: João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Bruna Linzmeyer, Ana Flavia Cavalcanti, Luiz Bertazzo, Marcelo Varzea, Sylvia Prado, Victor Hugo Martins, Mauricio de Barros. 

Assista ao trailer do filme:


 

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Chovendo Sapos: Crítica: Baby
Crítica: Baby
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