Sucesso na Broadway desde 2003 quando teve a sua primeira
montagem, o musical WICKED conta a história dos anos que antecederam os eventos
do clássico O Mágico de Oz de 1939, quando a Bruxa Má do Oeste e a
Bruxa Boa do Sul, Elphaba e Glinda, respectivamente, eram grandes amigas de
juventude. O musical é uma das maiores bilheterias da Broadway até hoje e já
ganhou versões nos palcos mundo afora, inclusive no Brasil.
Em Wicked, Elphaba é rejeitada pela cor verde da sua pele e Glinda é uma jovem popular um tanto quanto narcisista. A princípio, a personalidade distinta das duas personagens cria uma certa animosidade entre elas, mas logo elas criam um laço muito forte na universidade quando viram colegas de quarto. Nessa primeira parte do musical, a segunda parte só será lançada nos cinemas no ano que vem, a gente acompanha o desabrochar de Elphaba. A bruxa verde tem o arco que é o grande destaque do filme. Wicked: Parte 1 é uma história sobre a sua ascensão e amadurecimento.
A adaptação cinematográfica de Wicked esteve em desenvolvimento desde 2012 em Hollywood. Inicialmente, Stephen Daldry assumiria a direção Depois da pandemia, Jon M Chu, diretor de Podres de Ricos e do musical Em um Bairro de Nova York, passa a ser o grande chefe do projeto que enfim vemos nas telas.
A primeira parte de Wicked é um deleite. Centrado em duas personagens femininas muito bem construídas, com jornadas envolventes, o longa é uma experiência narrativa e visual muito satisfatória. Jon M. Chu tem em mãos um material riquíssimo a ser explorado, ampliando o universo de Oz sem soar como um produto derivativo barato de um clássico do cinema. Wicked tem relevância própria.
Os números musicais são muito bem executados, com coreografias desafiadoras para o elenco e canções que fazem a história caminhar, além de explorar a psicologia das suas personagens. Wicked também tem ótimos cenários. Eficientes na composição de um universo com uma arquitetura muito singular, cada ambiente é muito bonito e muito crível, com pouquíssimo uso de CGI, contribuindo na imersão do espectador em toda a sua mitologia.
Para quem está preocupado com o gênero. Sim, Wicked é muito musical, mas acredito que dá para ter uma apreciação do filme superando qualquer desdém que parte do público costuma ter com o gênero porque nesse caso o longa flerta bastante com a fantasia.
O elenco do longa é um dos maiores acertos do projeto. Cynthia Erivo é espetacular como Elphaba, dando a densidade necessária para uma heroína que tem um background bastante triste e que atravessa muitas mudanças ao longo da história. O grande acerto da atriz, no entanto, é dar credibilidade a esta jornada e evitar que o drama da personagem confira um tom melancólico a um material que é essencialmente solar. Erivo é a protagonista absoluta dessa primeira parte. Todo o plot gira em torno da jornada dessa personagem e a atriz tem muitas oportunidades para explorar a dramaticidade da história de Elphaba, alguém que é rejeitada em Oz pelas suas características físicas e que acabou encontrando suas próprias estratégias para lidar com isso, a principal delas é controlar os seus poderes, reprimindo sua própria expressão. Há momentos comoventes no desempenho de Erivo como a apresentação da sua personagem em um baile enquanto é caçoada pelos colegas.
Do outro lado, Ariana Grande tem uma interpretação solar como Glinda. Particularmente, explorando de forma impecável seu timing cômico e trafegando por uma vilania sem colocar o público contra sua personagem, ainda que Glinda seja capaz de atos bem questionáveis em virtude do seu narcisismo. Ariana enche esta interpretação de detalhes, como o trejeito da Glinda com seus cabelo e executa de forma excepcional coreografias muito complexas. Além das duas, o filme conta com a presença de Jonathan Bailey, capaz de seduzir uma pedra se ele quiser como um príncipe e também impecável no número musical que protagoniza, tão complexo coreograficamente quanto o de Grande. Michelle Yeoh e Jeff Goldblum tem seus momentos como a diretora da universidade e o mágico de Oz, respectivamente, mas não tem material o suficiente para entregar, ao menos nessa primeira parte do musical, ainda que ambos tenham bons momentos aqui e ali.
Wicked: Parte 1 é um deleite: enche os olhos, entretém, emociona e conta com duas forças dramáticas nas performances de Cynthia Erivo e Ariana Grande. Jon M. Chu dá vida a um universo fascinante cumprindo com êxito a difícil missão de levar para as telas algo que já vinha coberto de expectativas.
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