Não fale o mal é mais um remake em língua inglesa de um longa internacional de bastante sucesso. Desta vez, Hollywood se apropria do filme dinamarquês de mesmo título de 2022 (sim, um longa de dois anos atrás!) dirigido por Christian Tafdrup.
O longa traz na sua trama uma família encabeçada pelo casal de personagens vividos por Mackenzie Davis e Scoot MacNairy. Louise e Ben Dalton estabelecem um elo com um outro casal durante uma viagem à Itália. A afinidade acontece sobretudo porque Paddy, interpretado por James MacAvoy, é uma figura bastante singular. Ao mesmo tempo que Paddy é um sujeito despojado e divertido, tem um comportamento pontualmente agressivo, sobretudo com o filho dele, Ant, uma criança que apresenta um problema na fala. Depois da Itália, as duas famílias voltam a conviver quando o personagem do MacAvoy convida o casal Louise e Ben para uma temporada em sua casa. Aqui, as coisas começam a ficar mais sinistras.
Esta versão de Não fale o mal é dirigida por James Watkins, cujo currículo é formado por um episódio da série Black Mirror em 2016 e pelo filme A Mulher de Preto com Daniel Radcliffe. A julgar por esse histórico, o saldo desse
filme é bem positivo. Não fale o mal é conduzido com muita segurança e
mantém durante boa parte da sua projeção um clima de muita tensão.
Parte do êxito do longa pode ser creditado ao desempenho de James McAvoy. Desde Fragmentado de M. Night Shyamalan, o ator deixou de ser aquele típico galã de romance inglês, como em Desejo e Reparação de 2007, e passou a dar vida a sujeitos de psicologia um tanto quanto complicada. Interpretando um vilão de mente distorcida, MacAvoy concebe um personagem extremamente ameaçador e imprevisível em cena.
Também é preciso apontar a ótima dinâmica que o roteiro do
filme estabelece para as duas vítimas do personagem de MacAvoy. O casal Ben e
Louise tem uma relação cheia de pontos desajustados. Ele é um sujeito bastante
inseguro, com baixa auto-estima e que passa a ter o vilão Paddy como uma
espécie de reflexo daquilo que gostaria de ser e não consegue como figura
masculina. Já a Louise da Mackenzie Davis está longe de cumprir aquele
estereótipo da personagem feminina indefesa nesse tipo de filme. Na maior parte
das vezes é ela quem toma a iniciativa e salva a pele do marido e das crianças
do filme.
Não fale o mal é, indubitavelmente, um produto dessa irritante incapacidade que Hollywood tem para apreciar filmes com legendas, mas também é, no fim das contas, um thriller com uma direção bastante eficiente e com ótimos atores. Não dá para reclamar muito de um projeto que apresenta um resultado tão competente assim, mesmo tendo origens bastante duvidosas.
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