Depois do fracasso da tentativa de reboot da franquia Hellboy em 2019 pelas mãos do diretor Neil Marshall, o famoso personagem das HQs da Dark Horse retorna às telas com Hellboy e o Homem Torto. A produção é marcada pelo orçamento de US$ 20 milhões, algo modesto em se tratando dos custos inflados da produção de blockbusters atualmente, o menor dentre as adaptações cinematográficas de Hellboy até aqui.
O longa também chega com a distinção de ser uma das primeiras adaptações cinematográficas de Hellboy cujo roteiro teve de fato a co-autoria de Mike Mignola, criador do personagem. Apesar de estar nos créditos dos filmes de Guillermo Del Toro e Neil Marshall, Mignola nunca participou criativamente de fato dessas produções e sempre foi crítico ferrenho dos longas, nunca tendo gostado de nenhum deles.
A produção estadunidense filmada na Bulgária chega em primeira mão em mercados que, como regra, não costumam ter acesso prioritário a esse tipo de produção. O Brasil, por exemplo, tem uma estreia desse longa antes mesmo dos EUA, algo que é interessante em termos de recepção pois estamos conferindo este longa sem qualquer "enviesamento" das críticas internacionais para direcionar nossa experiência com a obra.
Hellboy e o Homem Torto é superior a Hellboy de 2019. O roteiro de Hellboy e o Homem Torto é mais bem escrito, tem bons diálogos e nesse caminho consegue construir muito bem para o espectador a personalidade sarcástica do seu protagonista, algo que nem sempre ficou muito em evidência nas outras versões, sobretudo no filme de Neil Marshall. Também é um acerto do filme enfatizar a inclinação das histórias de Hellboy com o gênero horror, com uma presença bem articulada de demônios e zumbis ao longo da trama.
Infelizmente, os recursos precários prejudicam um filme como este. Em diversos momentos, as limitações orçamentárias ficam em evidência em Hellboy e o Homem Torto com suas locações isoladas, tomadas em estúdio e truques como efeitos de imagem ou tomadas noturnas para não revelar eventuais falhas na maquiagem ou nos efeitos visuais. Em alguns momentos isso não faz muita diferença porque a direção Brian Taylor é moderadamente eficiente ao criar uma atmosfera de terror e o roteiro concebe uma trama minimamente eficiente, mas em outros revela-se como um empecilho na apreciação da obra, sobretudo em clímax dramáticos.
Por vezes soando como um fan film daqueles que viralizam na internet, Hellboy e o Homem Torto tem um saldo positivo dado o contexto de produção. Os envolvidos parecem entender o que de fato funciona na história do personagem e estão empenhados em minimizar os danos dos recursos escassos de produção, ainda que, muitas vezes, isso não funcione. Jack Kesy dá um ótimo Hellboy - não melhor que Ron Perlman - e o filme consegue oferecer bons momentos para a ação dele como o personagem sendo isso o que no final das contas importa.
COMENTÁRIOS