"Sair do armário" não é um processo fácil para qualquer LGBT+. Na adolescência, pode ser uma jornada solitária e dolorosa, hostil se o ambiente externo não contribui para a autoaceitação. Na vida adulta, então, parece que esses problemas se multiplicam e tudo é ainda mais desafiador. Ao mesmo tempo que você se sente velho demais, envergonhado e culpado pela suposta falta de "timing" da sua jornada na comparação com a dos outros, sentindo-se ocupando lugares tardiamente, você também se entende como alguém "deslocado" entre os seus e se questionando sobre como deverá se portar de agora em diante, quais são as suas expectativas e a dos outros. Há o vigor da juventude e a sensação de estar pronto para explorar sua sexualidade, mas também um medo muito grande de tudo que virá a partir daí. É nesse estágio da vida que encontramos Lucy, personagem de Dakota Johnson na comédia romântica Está tudo bem comigo?.
O filme de Tig Notaro e Stephanie Allynne é na essência uma comédia romântica, com toda a leveza inerente ao gênero, explorando aquele "american way of life" de jovens adultos estadunidenses. Acontece que, no meio dessas convenções, o roteiro de Lauren Pomerantz explora muito bem a temática LGBT+ através da jornada de Dakota Johnson. Além da personagem ser muito bem defendida pela atriz, que consegue dimensionar com sensibilidade todas as inseguranças de Lucy em seu processo de descoberta de si, o texto de Pomerantz cumpre muito bem a função de explorar a experiência singular dessa protagonista, poucas vezes abordada nas telas - normalmente essas histórias são sempre contadas pelo ponto de vista de personagens adolescentes.
No papel que cumpre de representar uma jornada LGBT+ poucas vezes explorada em mídias audiovisuais, Está tudo bem comigo? tem qualidades inegáveis. Mesmo na leveza típica de uma comédia romântica, tem um enfrentamento complexo para a trajetória da sua protagonista. Por outro lado, é um filme que apresenta uma lacuna ruidosa no seu terceiro ato, sabotando parte do seu exitoso esforço inicial. Nesse desequilíbrio, o filme prejudica a experiência do espectador que ficou bastante intrigado com a ótima abordagem inicial das cineastas.
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