Crítica: A Filha do Palhaço


O realizador cearense Pedro Diógenes (Inferninho) traz em A Filha do Palhaço uma história terna sobre reajustes familiares. No longa, Joana (a revelação Lis Sutter) não foi criada ao lado do pai. Quando Joana ainda era bebê, Renato (Demick Lopes) abandonou esposa e filha para viver a vida com o novo namorado. Desde então, os encontros entre Renato e Joana são esporádicos, entre uma ou duas vezes ao ano. Isso até o momento em que a mãe da adolescente deixa a menina por um tempo mais prolongado com o pai. Nessa temporada, Joana acompanha Renato todas as noites no seu trabalho, onde ganha a vida como drag em shows de comédia para turistas de Fortaleza. Eles então passam a conhecer um ao outro de forma mais íntima, tendo a oportunidade de estabelecer laços nunca antes formados. 


Como vem declarando, o cineasta Pedro Diógenes fez A Filha do Palhaço como uma homenagem ao seu falecido primo, Paulo Diógenes, que dava vida à personagem Raimundinha, uma figura conhecida no Ceará. O longa de Diógenes é uma reverência às drags que fazem stand-ups e também faz um retrato sensível sobre a por vezes dolorida jornada de um homem que se assume gay na vida adulta e sua relação com uma família anterior formada no modelo heterossexual. A convivência com o pai faz Joana ter mais empatia por aquele sujeito de quem tem muita mágoa por tê-la abandonado ainda pequena e também é uma oportunidade para Renato assumir a paternidade pelo prisma da sua verdadeira identidade. 

A estrutura do roteiro de A Filha do Palhaço não subverte manuais, nem contraria outros tantos filmes que abordaram premissas semelhantes, mas é nessa universalidade e simplicidade que o longa de  Diógenes ganha o público. Demick Lopes tem um ótimo desempenho como Renato, seja quando o personagem está nos palcos, seja fora dele, quando lida de maneira desajeitada com a função de pai. Como Renato, Lopes constrói um sujeito simples e leve, que tem a "carcaça" e a culpa de quem passou por muitos percalços na vida, mas que não se desumanizou ao longo desse processo, sendo essa postura que possibilita sua reconexão com a filha adolescente Joana. A atriz Lis Satter interpreta esta adolescente com muita sensibilidade e há ainda uma simpática participação de Jesuita Barbosa como um clown chamado Marlon que cruza o caminho dos protagonistas sempre em um bar depois que Renato faz suas apresentações. 


Explorando uma narrativa abertamente emotiva sem soar piegas, com emoções fabricadas, Pedro Diógenes faz de A Filha do Palhaço um filme amoroso no qual seus personagens se reajustam com o passado e procuram estabelecer pontes que conduzirá suas relações de forma positiva dali em diante. O cineasta desenvolve de forma humana esse tema, com personagens de carne-e-osso que mobilizam com muita honestidade sentimentos capazes de gerar empatia nos espectadores. É um filme otimista que sinaliza para o público: sempre dá tempo de traçar novos destinos e evitar histórias familiares marcadas por questões mal resolvidas. 


Avaliação


Título original: A Filha do Palhaço
Ano: 2024
Duração: 104 minutos
Nos cinemas
Direção: Pedro Diógenes
Roteiro: Pedro Diógenes e Amanda Pontes
Elenco: Démick Lopes, Lis Sutter, Jesuíta Barbosa, Mateus Honori, Ana Luiza Rios, Valéria Vitoriano. 

Assista ao trailer:






 

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Chovendo Sapos: Crítica: A Filha do Palhaço
Crítica: A Filha do Palhaço
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