Em suas quase duas horas de projeção, Contra o Mundo é muito direto com o público a respeito daquilo que ele pretende executar ao longo da sua narrativa. O filme de Moritz Mohr, diretor alemão que até então só tinha curtas e uma série de TV no currículo, quer oferecer ao espectador um longa de ação descompromissado com altas doses de violência e muito humor tendo como inspiração o modus operandi de jogos de videogame de luta, como Mortal Kombat ou Street Fighter, que aliás, servem de inspiração para que seu personagem principal, um jovem surdo-mudo, crie sua voz interior para narrar a sua jornada para o público.
Contra o Mundo traz a história de Boy, personagem de Bill Skarsgard, um rapaz cuja família é assassinada pela líder de uma poderosa família mafiosa. Treinado por um xamã, Boy empreende uma jornada de vingança contra aqueles que lhe fizeram mal, aniquilando membro a membro do clã liderado pela personagem que matou seus pais a sangue frio na sua frente.
Tudo em Contra o Mundo emula jogos de luta: a voz interior do protagonista que é apropriada de um game do gênero do qual ele era muito fã na infância; a caracterização de Boy e dos seus adversários, personagens que se revelam excêntricos em seu visual e em suas habilidades marciais; os jogos de câmera que captam com precisão os movimentos que costumam ser vistos nesses jogos e a ação coreografada e cheia de estilo e que em nada corresponde à realidade, ainda que sempre marcada por muita violência gráfica.
Mohr é muito habilidoso ao captar as marcas desses jogos e incorporá-las de forma tão orgânica e descompromissada em seu filme, sem precisar complexificar demais a jornada do seu protagonista, sua psicologia ou o universo onde ele está inserido. Contra o Mundo proporciona para o público uma experiência puramente escapista, semelhante àquela vivenciada por um jogador de Mortal Kombat que opta pelo modo "história" e acompanha uma narrativa simples, a mais rasa possível, porque aqui o que interessa é mergulhar na engenhosidade com que seus excêntricos personagens se degladiam em cena.
É bom ver Bill Skarsgard sem a indumentária e a maquiagem do palhaço Pennywise de It: A Coisa, demonstrando sua versatilidade como o herói do longa e sustentando muito bem as cenas de ação do filme, assim como também é interessante ver participações inusitadas de alguns integrantes do seu elenco. Michelle Dockery está empenhada em fazer o público esquecer a sua imagem de dama inglesa eternizada na série Downton Abbey interpretando uma vilã propositalmente caricata. Na mesma medida, Famke Janssen dá o ar da graça também fazendo uma vilã, a eterna Jean Grey da franquia X-Men surge como a chefona da máfia que desperta a ira do protagonista.
O que particularmente incomoda em Contra o Mundo e não deverá agradar todas as plateias é o humor adolescente que acompanha o filme. O longa de Moritz Mohr faz piada com situações que podem satisfazer um público mais jovem, mas que talvez não sejam muito do feitio de plateias mais maduras ou para as quais esse tipo de humor não surte um efeito tão positivo. Não há nada de ofensivo contra minorias no longa, mas Contra o Mundo tem aquela chave de comunicação de uma narrativa audiovisual cool acerebral que aproveita, por exemplo, membros decapitados para trazer alguma gag. Ainda assim, é impossível não reconhecer o feito do seu diretor que faz precisamente aquilo que se propõe e não se perde ao longo da sua execução com atalhos ou distrações. Contra o Mundo é exatamente aquilo que "vende", um longa de ação pop, ancorado em boas e divertidas cenas de luta que entretém bastante o espectador.
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