Em Clube Zero, a diretora austríaca Jessica Hausner (de Little Joe: A Flor da Felicidade) traz uma história que se passa por completo no colegial. No filme, adolescentes são convencidos por uma instrutora interpretada por Mia Wasikowska de que devem se submeter a uma dieta questionável marcada pela ausência completa da ingestão de qualquer alimento, daí o título "Clube Zero". Conforme os laços de confiança e devoção entre alunos e instrutora passam a ser fortalecidos por crenças e pela retórica da personagem de Wasikowska, tudo se complica no contexto desses estudantes, a saúde deles fica debilitada e seus pais perdem a autoridade na vida dos filhos, não conseguindo demovê-los da ideia de seguir aquela dieta estapafúrdia.
Clube Zero é um esforço de Hausner e da sua co-roteirista Géraldine Bajard de falar sobre algo que está além daquilo que simplesmente é visto na tela, uma grande metáfora ou analogia parece estar em curso na narrativa do filme. O longa e toda a construção da diretora e roteirista parecem apontar a situação da dieta como uma grande metáfora para questões que preocupam a cineasta, mas esta relação é um pouco nebulosa. O grande problema é que Clube Zero não dá muitas certezas sobre o alvo das suas críticas, podendo a situação da dieta retratada no filme mirar vários temas borbulhantes como religião, política etc.
A devoção cega dos estudantes às orientações da personagem de Wasikowska podem querer fazer o espectador pensar sobre a fé e os riscos de uma devoção cega a certos dogmas, a maioria fundados em retóricas que forjam uma pretensa realidade. Consequentemente, por indicar esta relação temática, o filme acaba esbarrando em aproximações com o cenário político global atual e a adesão irrestrita e inconteste de grupos, que mais parecem seitas religiosos, a lideranças extremadas cujo discurso-base para angariar adesão entre os eleitores está calcado no negacionismo.
Todas os caminhos apontados são possíveis, mas Clube Zero não traz elementos em sua trama que especifiquem a direção do seu olhar. O filme parece preferir uma metáfora mais generalista e, como consequência, toda a abordagem fica na superfície, refém de uma reiteração discursiva sobre manipulação da realidade, devoção e seus riscos. Conforme os alunos do longa mergulham fundo na sua relação com a tal dieta, o espectador nota comportamentos ilógicos, calcados em crenças e construções de realidades que nada condizem com o mundo como ele de fato é e que os conduzem a uma auto-aniquilação.
Clube Zero é um filme com muitos problemas de comunicação. Jessica Hausner é uma realizadora empenhada na oferta de um olhar original com seu cinema, mas Clube Zero peca pela ausência de uma crítica direcionada e de um trabalho mais consistente na construção da sua analogia. É um longa que causa angústia e, de certa forma, a realizadora acerta na construção dessa experiência emocionalmente exaustiva para seus personagens, mas peças fundamentais estão faltando nessa crítica da realizadora e o longa não consegue criar uma relação mais sólida e intelectivamente rica com o espectador.
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