Lançado nos cinemas em 2007, o primeiro Ó paí, ó é baseado em uma peça homônima de Márcio Meirelles montada com atores do Bando de Teatro Olodum fazendo uma crônica do Pelourinho. A história apresentava um mosaico de personagens, todos moradores do famoso centro histórico de Salvador, e ganhou notoriedade por representar traços da cultura local através da música, do jeito de falar, hábitos locais... A produção dirigida por Monique Gardenberg teve uma certa repercussão nacional e até ganhou série na Rede Globo.
A continuação de Ó paí, ó chega para o público tardiamente, quase quinze anos depois e fica difícil para o longa exigir da audiência alguma vaga lembrança da trama e das suas personagens, ainda que figuras como Neusão, interpretada por Tania Tôko, e a religiosa Dona Joana, da atriz Luciana Souza, nem precisem fazer muito esforço para garantir a imediata simpatia do público. Como no primeiro longa, não existe em Ó paí, ó 2 uma premissa que garanta algum tipo de unidade à narrativa. O longa até ensaia a perda do bar de Neusão, o luto de Dona Joana ou a batalha pelo reconhecimento artístico do Roque de Lázaro Ramos como o fios condutores do drama principal do projeto, mas a essência da produção é mesmo a dispersão - e, nesse caso específico, isso não chega a ser um problema.
Há no projeto o mérito de pincelar algumas discussões relevantes como os problemas de uma indústria cultural que não reconhece os verdadeiros artistas por trás das suas obras e a ameaça da especulação imobiliária ao patrimônio histórico da cidade. Existe também na continuação um esforço de dimensionar a força daquele grupo de personagens como coletivo, colaborando uns com os outros na superação dos seus respectivos problemas. Contudo, há também um tratamento vacilante do projeto no que tange às discussões sobre questões contemporâneas - que nem são mais tão contemporâneas assim - como é o caso do metaverso e a inclusão das novas gerações nessa história.
A direção de Viviane Ferreira tem seus bons momentos, como o interessante uso das canções feito pelo projeto, inclinando-o para o gênero musical, mas de maneira geral não é tão bom quanto o trabalho de Monique Gardenberg no primeiro filme. O projeto também parece não saber o que fazer com alguns personagens que tinham uma certa relevância no primeiro longa e que aqui surgem apenas "para constar" e garantir algum tipo de memória afetiva, como é o caso da Psilene de Dira Paes, do Reginaldo de Érico Brás e Yolanda de Lyu Arisson.
Ó paí, ó 2 sofre dos problemas de uma sequência cinematográfica tardia, a falta de timing, o que prejudica até mesmo o retomada de alguns personagens pelo seu elenco. Entre erros e acertos, o projeto tem o mérito de sustentar muito bem seu orgulho pela identidade baiana, fazendo uma reverência muito sensível a todos os elementos que a constituem. Narrativamente, Ó paí, ó 2 tem seus tropeços, mas consegue imprimir na tela como poucos a tal "baianidade" e a participação de artistas locais é fundamental para o filme mais uma vez atingir esse objetivo, ainda que de maneira não tão interessante quanto da primeira vez.
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