Lançado nos cinemas por volta de um ano depois da morte de Gal Costa, falecida em novembro de 2022, Meu Nome é Gal é uma cinebiografia clássica da sua artista. O filme das cineastas Dandara Ferreira e Lô Politi surge logo depois da primeira dirigir uma série documentário sobre a cantora em 2017, O Nome dela é Gal. Para o papel de Gal, Ferreira e Politi chamaram Sophie Charlotte, atriz que em breve deve ter alguma projeção internacional com sua participação em The Killer, filme de David Fincher.
Meu Nome é Gal narra os primeiros anos da cantora, quando ocorreu a sua transição da tímida Maria da Graça para Gal Costa, passando por episódios como sua amizade com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, o nascimento da Tropicália e o conturbado momento da ditadura no Brasil dos anos de 1960, quando Gal se sentiu sozinha diante do exílio dos amigos na Inglaterra.
Como parte das cinebiografias, Meu Nome é Gal desliza ao tentar dar conta de um lapso temporal extenso na vida da biografada, trazendo uma estrutura episódica que muitas vezes constrói a personalidade da sua protagonista como uma "colcha de retalhos", ou seja, da maneira mais generalista possível e com uma certa dificuldade de se aprofundar em cada um dos eventos. A sensação é que todos os momentos da vida de Gal passam muito rápido na tela e todos eles são abordados da forma mais superficial possível. Filmes do gênero costumam ser mais bem-sucedidos quando registram um único episódio da vida do seu biografado e tentam concentrar esforços na radiografia da sua personalidade a partir da sua inserção nesse contexto específico, como os trabalhos do diretor Pablo Larraín em Jackie ou Spencer. Esse não é o caso de Meu Nome não é Gal, um projeto que contempla em sua narrativa boa parte da vida da artista e que nesse esforço de abordar cada momento acaba não se aprofundando em nenhum deles.
Sem dúvida, o ponto alto do filme de Ferreira e Politi é a performance de Sophie Charlotte como Gal Costa. As diretoras optaram por oscilar entre momentos nos quais Charlotte dubla registros originais de Gal com aqueles nos quais a atriz de fato canta, se aproximando de traços da voz da cantora, mas jamais imitando a artista. De maneira inteligente, as cineastas e a atriz optaram pela homenagem no lugar da cópia fiel, ainda que aqui e ali, inevitavelmente, Charlotte traga, por exemplo, o jeito de falar "manhoso" de Gal, mas tudo é feito de maneira tão suave que evita que a atriz caia na cilada da paródia. Fora dos palcos, Charlotte também tem ótimos momentos, sendo interessante a maneira como a atriz construiu sem mudanças muito bruscas a transformação de Gal Costa ao longo do filme, a sua "saída do casulo" quando sai da Bahia.
Marcado por um problema comum a filmes do gênero, esse ímpeto de "abraçar o mundo" e dar conta de toda uma vida da sua biografada, Meu Nome é Gal funciona melhor quando opera como um "filme homenagem" ao legado da artista do que quando visto como um retrato fidedigno da sua história. Da bela e sincera homenagem das diretoras à artista, o maior êxito é de fato a presença de Sophie Charlotte como Gal nas telas, personificando a cantora com sensibilidade e uma força tímida e suave que fazem justiça ao legado da cantora.
Avaliação
Título original: Meu Nome é Gal
Ano: 2023
Duração: 120 minutos
Nos cinemas
Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi
Roteiro: Lô Politi e Ricky Hiraoka
Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Luis Lobianco, Camila Márdila, Chica Carelli, Elen Clarice, Fábio Assunção, Lavínia Castelari, Dandara Ferreira, Dan Ferreira.
Assista ao trailer:
COMENTÁRIOS