Crítica: A Chamada

 


Desde que protagonizou Busca Implacável em 2008, o britânico Liam Neeson, outrora conhecido por performances densas em dramas como A Lista de Schindler e Nell, passou a ser o rosto preferido de uma geração de fãs de filmes de ação. De lá para cá, foram dezenas protagonizados pelo ator: além das continuações de Busca Implacável, tivemos Desconhecido, Sem Escalas, Caçada Mortal, Noite sem Fim, O Passageiro, Vingança a Sangue-Frio... Enfim, todo um filão centrado na persona de Neeson como esse herói de ação, que não chega a ser um troglodita como os protagonistas  vividos por Schwarzenegger ou Stallone nos anos 80, mas também não tem a grife de um 007. É um tipo de personagem que trafega entre esses dois extremos que o ator consegue encarnar como ninguém. 


A Chamada é uma das produções que vem nesse filão com a proposta de ser um longa de orçamento e ambições modestas, um roteiro simples e bastante direto na sua comunicação com o público. O filme Nimród Antal (diretor de séries como Stranger Things e Servant) quer prender o espectador na tensa situação vivida por seu protagonista, Matt Turner, um executivo responsável por vultosas aplicações financeiras de seus clientes que se vê ameaçado por um homem do outro lado da linha do seu celular. Este interlocutor diz ao protagonista que há uma bomba instalada no veículo que Matt está conduzindo para levar seus filhos à escola. Caso Matt saia do banco do seu carro, a bomba poderá ser ativada matando todos que estão no veículo. 

A Chamada tem um modus operandi que já foi executado de maneira mais exitosa por outros diretores. Nimród Antal tem em mãos um roteiro que concentra sua ação em poucas sequências, todas ambientadas em um único dia, e espaços reduzidos (a maioria delas ocorrem dentro do carro do protagonista). As características do roteiro de Alberto Marini e Christopher Salmanpour não são o suficiente para inspirar uma direção que consiga transmitir para o espectador a atmosfera claustrofóbica e de constante tensão que a trama sugere. No lugar disso, A Chamada tem uma direção morna, que parece pouco se importar em imprimir qualquer tipo de inventividade e ritmo a um material que por si só já soa derivativo. 


Liam Neeson até que se esforça, mas parece no "piloto automático" quando está em cena - algo que podemos esperar de alguém que já interpretou esse tipo de personagem tantas vezes em sua carreira. Quem consegue imprimir algum tipo de emoção aos eventos dessa história é a dupla de jovens atores com quem Neeson contracena, os intérpretes dos seus filhos, Lilly Aspell e Jack Champion. Há uma participação de Matthew Modine, que não diz muito a que veio, além de Noma Dumezweni, atriz que sempre imprime muita presença em suas participações em filmes e séries, vide os casos de The Undoing e, recentemente, A Pequena Sereia, mas que aqui acaba sendo "apagada" pelo pouco tempo de tela e por uma personagem escrita de maneira protocolar. 

Toda a condução de A Chamada depõe ainda mais contra a obra quando o filme troca a expectativa da construção de uma trama que parecia sugerir um discurso "anarquista" contra o capitalismo pela revelação de um vilão completamente simplória. Aqui, todas as oportunidades de fazer um filme melhor são desperdiçadas e opta-se pela "zona de conforto". Nesse "feijão com arroz" não sobra nem mesmo o puro escapismo como justificativa para sustentar uma sessão, ainda que a mesma dure econômicas uma hora e meia de projeção. 


Avaliação


Título original: Retribution
Ano: 2023
Duração: 91 minutos
Nos cinemas
Direção: Nimród Antal
Roteiro: Alberto Marini e Christopher Salmanpour
Elenco: Liam Neeson, Jack Champion, Lilly Aspell, Noma Dumezweni, Matthew Modine, Embeth Davidtz, Arian Moayed, Emily Kusche, Luca Márkus. 


Assista ao trailer:







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Chovendo Sapos: Crítica: A Chamada
Crítica: A Chamada
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