Crítica: Asteroid City



O cineasta Wes Anderson tem um estilo todo particular que viralizou na internet. Quando vídeo-ensaios começaram a ser produzidos em plataformas como o Vimeo ou o YouTube por acadêmicos da área do audiovisual ou não, a obsessão do diretor pela simetria nos seus enquadramentos, o jeito particular de interação entre seus personagens (que confere uma forma especial para seus atores se portarem diante das câmeras), suas cores  e seus movimentos de câmera foram explorados por toda sorte de vídeo, alguns analisando sua obra, outros meramente como exercício de culto da sua arte cinematográfica. Asteroid City não foge das marcas do cineasta e até as eleva a um certo nível de "rebuscamento" que pode não agradar àqueles que não são muito afeitos a assinatura do diretor. 

No longa, Anderson acompanha a jornada de um fotógrafo de guerra, víuvo, vivido por Jason Schwartzman, um dos atores preferidos do diretor. Schwartzman vive um homem que tem dificuldade para se conectar com seus quatro filhos, um adolescente e quatro adoráveis meninas. Ele é pressionado pelo avô dos seus filhos (Tom Hanks) a contar sobre o que aconteceu com a mãe deles, mas tem muita dificuldade para isso, decidindo resolver a questão em uma cidadezinha no meio do deserto americano chamada Asteroid City, cuja principal atração turística é uma cratera deixada por um asteróide. Há uma constante obsessão do lugar por alienígenas e, por conta dessa confluência de características, a cidade acaba sendo palco para a premiação de jovens talentos da ciência, fazendo com que ao protagonista se junte mais alguns personagens, como uma conturbada estrela de cinema, interpretada por Scarlett Johansson. 


Asteroid City não tem a simplicidade, nem o teor afetivo, que tão bem fizeram a filmes recentes do realizador, como Moonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste. A dificuldade de expressar emoções, traço predominante da personalidade de dois dos seus personagens centrais, o viúvo de Schwartzman e a estrela de cinema de Johansson, que aqui vivem um flerte durante uma quarentena, dificulta um pouco o envolvimento emocional do público com a história, o que, somado ao jeito peculiar de Anderson de fazer cinema, pode criar uma certa dificuldade de conexão do filme com audiências menos afeitas ao estilo do cineasta ou acostumadas com uma abordagem mais tradicional para histórias. 

Do outro lado, Anderson segue conduzindo de maneira fascinante suas narrativas, apresentando variações interessantes de suas marcas autorais e Asteroid City vem na esteira desses esforços. Com ajuda do trabalho impecável de uma equipe de direção de arte, da direção de fotografia e dos figurinistas, Anderson consegue compor um universo peculiar restrito ao espaço reduzido, mas vasto pelo deserto, da cidade que dá título ao filme, uma localidade criada em estúdio, mas que proporciona em cada frame um jogo interessante de cores. Nesse longa, Anderson propõe uma metalinguagem ao apresentar situações paralelas: os eventos em Asteroid City e a encenação deles por um grupo de teatro a partir de um texto escrito por um dramaturgo vivido por Edward Norton, um diretor interpretado por Adrian Brody e um narrador vivido pelo providencial Bryan Cranston. 

Os paralelos da situação do filme com a pandemia da COVID-19 são inevitáveis, sobretudo porque aos personagens da história é imposto um isolamento em Asteroid City após um contato estranhíssimo com um alienígena. A situação traz para a maioria deles uma intimidade forçada nas cercanias da cidade que acelera a proximidade e estreita os laços e afinidades entre a maioria deles. 



É impossível sair indiferente aos filmes de Wes Anderson. Asteroid City não tem o mesmo carisma de outros filmes do diretor, mas o que é interessante aqui é como Anderson parece disposto a não se acomodar na fama do seu estilo e produzir sempre o mesmo filme. O resultado aqui, confesso, pega de surpresa. Asteroid City é uma experiência completamente singular em sua filmografia, ainda que reconheçamos do início ao fim a forma de tecer histórias que é típica do seu cineasta. 


Avaliação




Título original: Asteroid City
Ano: 2023
Duração: 105 minutos
Nos cinemas
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola
Elenco: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Maya Hawke, Rupert Friend, Jake Ryan, Grace Edwards, Edward Norton, Tilda Swinton, Adrian Brody, Hope Davis, Liev Schreiber, Sophia Lillis, Margot Robbie. 


Assista ao trailer:


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Chovendo Sapos: Crítica: Asteroid City
Crítica: Asteroid City
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