Chevalier conta a história de Joseph Bologne, conhecido na corte de Maria Antonieta como Chevalier de Saint-Georges. Bologne foi um violonista e condutor da orquestra de Paris, filho de um rico senhor de terras e uma de suas escravas, cujo legado na música foi por muitos anos desconhecido. A vida deste importante personagem histórico ganha as telas pelos esforços do diretor Stephen Williams, recém saído de trabalhos em séries como Watchmen e Westworld.
O trabalho de Williams nesse filme é burocrático no que tange a linguagem se considerarmos o gênero no qual ele está localizado: as cinebiografias de época. No âmbito da forma, o diretor não faz nada que outros títulos do gênero já não tenham feito. A singularidade de Chevalier reside mesmo no tratamento que o roteiro de Stefani Robinson dá para a trajetória dessa figura histórica, sobretudo seu confronto com o racismo.
Ao retratar seu protagonista como um homem negro que cresceu em uma elite europeia branca e que, buscando a aprovação, nunca se sentiu parte desse grupo social em razão do racismo escancarado, Chevalier acerta ao mirar em discussões sobre o preconceito internalizado. Em dado momento, fica evidente como Joseph foge e rejeita qualquer confronto com a realidade opressora que o vitima, mesmo que os sinais fiquem cada vez mais evidentes e violentos. Em dado momento do filme, uma fala da mãe do protagonista dá ênfase a este mote na história, ela diz: "A maior maldade que (os brancos) fazem não é com nossos corpos, mas com nossas mentes", sublinhando como o racismo, e qualquer forma de preconceito, age de maneira mais violenta na psiquê de sua vítima, fazendo com que ela negue sua identidade e tenha vergonha de si.
No papel título, Chevalier conta com Kelvin Harrison Jr., de filmes como Luce e Cyrano. O ator dá vida ao protagonista de maneira consistente. Ele é acompanhado por um elenco coadjuvante bastante competente que inclui as atrizes Minnie Driver, Lucy Boynton, que dá vida a Maria Antonieta, e Samara Weaving, intérprete da cantora de ópera Marie-Josephine com quem Chevalier vive um trágico romance extra-conjugal. Como a mãe de Chevalier, a atriz Ronke Adekoluejo tem o melhor trabalho do filme com cenas fundamentais que confrontam o personagem de Harrison Jr. no último ato.
Chevalier é um filme bastante rico sobretudo quando revisa o lugar do seu biografado na história da música. Como tantas figuras históricas importantes, Joseph Bologne teve seu legado apagado por uma História racista que omitiu e negou a existência de personagens como ele. Ao longo da sua narrativa, o filme chega a informar o espectador como depois da Revolução Francesa qualquer vestígio da importância do trabalho de Bologne foi apagado por Napoleão Bonaparte.
Durante anos, a História foi contada de forma que os negros só fossem integrados a ela nos papéis de escravos. Este filme, como tantas obras nos últimos anos tem um mote evidente de corrigir essa falta gravíssima de uma História narrada por brancos e o faz de maneira muito direta e eficiente.
Avaliação
Título original: Chevalier
Ano: 2023
Duração: 108 minutos
Disponível no Star+
Direção: Stephen Williams
Roteiro: Stefani Robinson
Elenco: Kelvin Harrison Jr., Samara Weaving, Lucy Boynton, Ronke Adekoluego, Marton Csokas, Alex Fitzalan, Minnie Driver, Sian Clifford, Henry Lloyd-Hughes.
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