Elementos tinha a "pinta" de ser mais um daqueles projetos interessantes da Pixar, no qual o estúdio constrói um universo insuspeito e trabalha tramas profundas repletas de metáforas, inspirando discussões filosóficas e levando as plateias às lágrimas. Transformar elementos da natureza em personagens de um longa de animação soava tão subversivo e original quanto conceber tramas envolvendo brinquedos (Toy Story), sentimentos (Divertida Mente) ou espíritos (Soul), histórico notório do estúdio. Infelizmente, as expectativas não são cumpridas e Elementos é um dos projetos narrativamente mais desajustados da Pixar, com uma trama central que atira para todos os lados e nunca encontra um tom e uma mensagem muito bem definida para o seu espectador.
Em Elementos, personagens que representam os elementos da natureza (fogo, água, ar e terra) habitam uma mesma cidade. A protagonista dessa história é Faísca, uma jovem do elemento fogo que trabalha na mercearia do pai localizada em um bairro habitado somente por representantes do seu grupo elementar, que, por suas características identitárias, são sempre rejeitados pelos demais habitantes do local. Faísca acaba desenvolvendo uma afeição por Gota, um rapaz do elemento água que surge em sua mercearia para fiscalizar o estabelecimento.
Entre tantas outras ideias que são jogadas na tela, aquela que a animação de Peter Sohn parece a princípio apostar é na construção de uma trama sobre a tolerância através do romance entre os seus protagonistas, um casal de grupos identitários opostos. No entanto, em dado momento, Elementos parece não querer ser apenas isso, diluindo suas ambições em esquetes que apostam bastante no alívio cômico que a interação entre os elementos pode causar com suas características refratárias. O problema é que, quando a animação da Pixar resolve investir nesse tom mais descomprometido, o que existia de mais original na sua trama fica para trás e jamais é desenvolvido a contento - pior, fica perdido em meio a uma série de gags cíclicas sobre a singular interação dos habitantes do seu universo narrativo (a água que apaga o fogo, o fogo que queima a vegetação da terra e por aí vai). Com o tempo, o longa troca a singularidade e originalidade da sua proposta por uma abordagem que não sustenta sua fruição.
O filme até que se esforça, criando alguns momentos que inspiram um certo romantismo, mas todos eles surgem picotados em meio às tentativas da animação de "fazer graça". Nesse sentido, a história entre Faísca e Gota parece nunca chegar a um nível de organicidade o suficiente para fazer o espectador se engajar nessa espécie de Romeu e Julieta da Pixar.
Diante de tantas empreitadas ousadas, a princípio, parecia que a Pixar poderia tirar de letra uma premissa como a de Elementos, mas não é o caso. Falta ao filme a ousadia para sair da zona de conforto de recursos tão batidos a esse tipo de material. Falta ao longa também uma certa coerência e organização no tipo de comunicação que intenta estabelecer com o público: ele quer estabelecer metáforas sociais, quer ser um romance ou quer simplesmente fazer um filme descompromissado para a família? Falta a Elementos o foco que sempre foi a marca da Pixar no desenvolvimento dos seus melhores trabalhos.
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