O Estrangulador de Boston se beneficia do crescente interesse do público por histórias true crime. A produção original da Hulu que estreia no Brasil diretamente para o streaming através do Star+ narra a investigação jornalística por trás dos crimes cometidos por um serial killer batizado como "o estrangulador de Boston", um assassino que apavorou a região na década de 1960.
O ponto de vista da história é da jornalista Loretta McLaughlin, papel de Keira Knightley. McLaughlin trabalhava na ocasião para o jornal Boston Record American. A repórter demonstrou uma eficiência e proatividade maior que a polícia dos anos 1960 para resolver o mistério, conectando três suspeitos aos assassinatos cometidos.
O roteiro e a direção de O Estrangulador de Boston fica a cargo de Matt Ruskin, realizador pouco conhecido que assina filmes ainda pouco vistos como Crown Heights e Booster. O longa carece de personalidade, seguindo alguns protocolos de obras similares. A comparação imediata é com o cinema de David Fincher, especificamente Zodíaco, que também se dedica a contar os bastidores de uma investigação jornalística em torno da identidade de um famoso serial killer. O roteiro de O Estrangulador de Boston parece se inspirar escancaradamente no trabalho do roteirista James Vanderbilt para o filme de Fincher de 2007, com direito até a uma cena em que a jornalista interpretada por Knightley se coloca em uma zona de perigo ao adentrar na casa de um suspeito em potencial (tal qual a inesquecível cena protagonizada por Jake Gyllenhaal em Zodíaco).
Narrativamente, o filme se vale de construções também muito recorrentes em longas sobre jornalismo, como a dinâmica entre a obstinada novata, a Loretta de Knightley, e a segura veterana, vivida por Carrie Coon, que por sinal se destaca no elenco quando está em cena. Além disso, esteticamente, o longa de Matt Ruskin opta por tonalidades escuras em sua fotografia que muito se assemelham ao trabalho de Harris Savides em Zodíaco, o que aliás não é exclusividade de O Estrangulador de Boston já que os filmes com essa temática, com uma certa frequência, vêm adotando identidade visual parecida fazendo tudo soar ausente de personalidade na história recente do gênero.
A produção ganha uma certa originalidade e um relativo interesse do público quando discute o lugar da mulher no jornalismo da época, fazendo uma reconstituição do "caldo" social da década de 1960. Quando traça a jornada de Loretta no caso, Ruskin mostra como a repórter teve que se rebelar de um sistema machista que delegava às mulheres editorias como moda e gastronomia, escancarando o sexismo nas redações. A trajetória da jornalista também é marcada por uma série de tentativas dos seus colegas de descredibilizar seu discurso e os méritos do resultado do seu trabalho. Além disso, também acabam ganhando pauta no filme as cobranças familiares em torno de Loretta (do marido e da família dele) a partir do momento em que sua vida profissional demanda alguns sacrifícios pessoais. No tratamento da temática, O Estrangulador de Boston acaba sendo mais eficiente que um exemplar recente que também abordou a questão, o drama Ela disse sobre o caso Harvey Weinstein.
O Estrangulador de Boston não faz muito pelas ramificações do suspense com as quais dialoga, como os filmes sobre serial killers. Nesse sentido, falta um pouco de personalidade à história. Talvez o grande mérito do filme de Matt Ruskin seja esse olhar para a questão de gênero nas redações dos jornais de sua época, algo que ele traça de maneira constante ao longo da história através das jornadas das personagens de Keira Knightley e Carrie Coon.
Avaliação
Título original: Boston Strangler
Ano: 2023
Duração: 112 minutos
Disponível no Star+
Direção: Matt Ruskin
Roteiro: Matt Ruskin
Elenco: Keira Knightley, Carrie Coon, Chris Cooper, Alessandro Nivola, Rory Cochrane, David Dastmalchian, Peter Gerety, Ryan Winkles, Morgan Spector, Robert John Burke.
Assista ao trailer:
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