Professias de Shyamalan
Cineasta retorna às telas com Batem à Porta, um filme sobre o apocalipse cheio de simbologias.
M. Night Shyamalan é um cineasta que costuma colecionar afetos e desafetos na cinefilia. Muitos amam o trabalho do diretor (um autor incontestável já que suas obras possuem marcas bem reconhecíveis), considerando suas histórias originais, habilidosas na construção de tensões e na oferta de recompensas surpreendentes em plot twists no terceiro ato, outros detestam a filmografia do diretor, acreditando que as mesmas características que angariam fãs para os seus trabalhos e são tidas como indícios de valor, trazem à tona um cineasta bastante pretensioso e que se leva a sério demais.
Assumimos aqui um juízo equilibrado entre esses dois pólos. Shyamalan tem trabalhos muito bons no seu currículo, sobretudo nos primeiros anos da sua carreira. Cabe citar os ótimos O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais e, principalmente, A Vila. Dali em diante, no entanto, surgiram obras de qualidade questionável como A Dama na Água e os tenebrosos Fim dos Tempos e Depois da Terra. O cineasta até se redimiu com títulos mais recentes como A Visita e Fragmentado, mas nada que lembrasse seus gloriosos primeiros anos.
A princípio, Batem à Porta dá indícios de um bom momento de Shyamalan. Como A Visita, ele lida com uma ação reduzida e objetiva, um foco que beneficia um cineasta na maioria das vezes megalomaníaco. Batem à Porta parece se distanciar das narrativas ambiciosas do diretor. Puro engano. O que se vê a seguir são os vícios mais latentes do realizador. Shyamalan não sabe conduzir as tensões que surgem dos conflitos entre aqueles personagens, que, por sua vez, tomam as decisões mais ilógicas possíveis. Além disso, a despeito de Shyamalan evitar um grande plot twist, que lhe é tão característico e, muitas vezes, um cadafalso nos seus trabalhos, Batem à Porta se sabota com algumas decisões do terceiro ato. Shyamalan faz uma história sobre o apocalipse, prometendo muita simbologia (o que certamente deve gerar uma série de discussões no futuro), mas a impressão que fica é que todas as interrogações que ele constrói se diluem ao longo da história e, nesse sentido, quando chegamos às respostas, podemos nos frustrar com o óbvio ou com qualquer reviravolta mais drástica.
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