Assassino entre nós
Morte Morte Morte traz um interessante olhar sobre a geração Z e como seu protagonismo pode mexer nas engrenagens de um slasher.
No protagonismo de Morte Morte Morte está um grupo de jovens da geração Z. Economicamente privilegiados, eles seguem alguns traços comuns, como a falta de um projeto ou propósito de vida, a relação bitolada que estabelecem entre suas interações nas redes sociais e a forma como se expressam como sujeitos fora delas. É esse grupo que a diretora Halina Reijn escolhe para um slasher que mexe de forma interessante com uma das regras do subgênero tal qual Pânico (1996): a identidade do assassino. Aqui, no entanto, desde o princípio, há uma consciência de todos os integrantes do grupo de que o assassino que os persegue está entre eles. Ao mesmo tempo, o longa representa uma forma inteligente da realizadora repensar a forma como essa geração é retratada na tela, sobretudo entender que alguns dos seus traços podem repensar componentes dramáticos extremamente ricos para a trama de um slasher.
A matança em Morte Morte Morte tem início quando o grupo protagonista inicia uma brincadeira no estilo "assassino e detetive", que logo se torna realidade. Um dos jovens na casa é assassinado e o responsável pelos crimes só pode estar entre eles, ou seja, o que seria um final de semana de curtição numa casa luxuosa acaba se tornando um intrincado quebra-cabeças que põe personagens e público para pensar em sua resolução: descobrir qual deles tem sido responsável pela matança.
Halina Reijn sabe lidar com o teor absurdo do comportamento daqueles personagens sem perder de vista a escala de tensão crescente na medida em que poucos deles ficam vivos no terceiro ato. Quando o cerco se fecha e as possibilidades de identidade do assassino ficam restritas, Morte Morte Morte fica ainda mais interessante. Melhor ainda é a solução encontrada pelo roteiro escrito por Sarah DeLappe para sua história, um desfecho catártico para o público de uma maneira bem incomum. Há humor em Morte Morte Morte, uma comicidade que pende para a crítica social ao refletir como o principal algoz dessa geração de sobreviventes de um slasher não é nenhum assassino mascarado, mas tudo aquilo que forja a personalidade daquele coletivo de pessoas.
Halina Reijn conta com um grupo de atores interessantes como Rachel Sennott (de Shiva Baby), intérprete da podcaster Alice; Maria Bakalova, a revelação indicada ao Oscar de Fita de Cinema Seguinte de Borat; e Lee Pace, como o "tiozão" atlético do grupo. É verdade que o longa derrapa em alguns momentos da sua condução sobretudo no início e no "miolo" da história, perdendo por vezes um certo ritmo, mas o terceiro ato e a engenhosidade como algumas ideias do filme se apresentam, dialogando a questão geracional com as regras narrativas dos slashers, compensam alguns dos seus deslizes.
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