Saído da forma
Samaritano tenta pegar carona em filão de super-heróis e acaba resultando em filme de ação genérico e anacrônico.
Samaritano é um exemplo de como a indústria se apropria de tendências do público da maneira mais canhestra possível. Na era dos filmes de super-heróis, na qual o gênero passou a ser a "galinha dos ovos de ouro" dos principais estúdios, vale de um tudo e todo mundo quer ter no seu catálogo uma potencial franquia protagonizada por um sujeito com super-poderes salvando o dia. Eis que em Samaritano temos Sylvester Stallone, astro de ação dos anos 1980, como um recluso ex-justiceiro com força sobre humana adorado pela população mas que não quer conta com o passado. O vigilante aposentado é descoberto por um garoto de treze anos que o incentiva a voltar à ativa diante de um levante perigoso que começa a se manifestar na cidade.
Com essa premissa, Julius Avery (do ótimo Operação Overlord) dirige uma espécie de pós-era de ouro dos super-heróis, como Watchmen, The Boys e Corpo Fechado, sua mais evidente associação. Como nesses exemplares, mas de maneira rasa, a sociedade assimila os ganhos e as perdas após a ascenção de justiceiros mascarados com super-poderes. Avery faz isso em Samaritano da maneira mais supérflua possível. No estágio que estamos na história do gênero, com tantas produções da Marvel e da DC estreando a cada ano, algumas delas virando esse formato de história do avesso, Samaritano parece algo resgatado dos anos 1990, com as marcas daquilo que naquele período poderia impressionar as plateias, mas que em 2022 soa banal, insuficiente para o público. Fica evidente a impressão de que o longa utiliza o gênero como pretexto para viabilizar comercialmente mais um filme de ação do Stallone.
A impressão que o longa dá é a de pegar várias muletas do gênero que aqui não vão para qualquer lugar minimamente interessante ou surpreendente. A trama do herói título se apoia na ideia do sujeito com traumas familiares, mas é a mais rasa possível, sem o mínimo de aprofundamento nas suas dores, ainda que anuncie isso o tempo todo como algo importante nos diálogos. Os vilões são ruins e usados com propósitos questionáveis na história, revolucionários populares que querem promover uma mudança nas estruturas sociais através da anarquia. Para piorar ainda escalam Pilou Asbaek como o líder do grupo, uma escolha preguiçosa que se apoia no espólio do ator depois de interpretar o asqueroso Euron Greyjoy em Game of Thrones. Existe ainda um drama em torno do garoto que é fã do Samaritano e da sua mãe que também pouco diz a que veio na história. Para completar, o longa ainda entrega para o espectador algumas das cenas de ação mais desinteressantes do ano e uma reviravolta que, dada o que constatamos até aqui, não surpreende pela obviedade.
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