Crítica: Fresh


Amor carnal

Longa de estreia de Mimi Cave com Sebastian Stan e Daisy Edgar-Jones faz interessante diálogo entre gêneros cinematográficos. 


Munido de pouquíssima informação sobre Fresh, o espectador pode até confundir o longa de estreia da diretora Mimi Cave com uma comédia romântica. Os trinta minutos iniciais do longa denunciam as marcas do gênero ao apresentar Noa, personagem de Daisy Edgar-Jones (da série Normal People), como uma jovem em busca de dates em aplicativos de namoro, trocando ideias sobre relacionamentos com a amiga Mollie (Jojo T Gibbs), até que ela encontra por acaso no supermercado Steve, um médico cirurgião interpretado por Sebastian Stan (da série Pam e Tommy), e então a magia acontece. Os dois se sentem imediatamente atraídos um pelo outro e iniciam um relacionamento que tende a se tornar sério.  

SPOILER!!! Acontece que Fresh não é uma comédia romântica e depois desses trinta minutos de exposição o longa logo revela Steve como um psicopata que cultiva o hábito bizarro do canibalismo, colecionando namoradas como prisioneiras em sua casa de férias para poder comer e distribuir partes dos corpos dessas moças como refeição para outros homens doentes como ele. Claro que Noa é a mais nova vítima do canibal e quando a personagem de Daisy Edgar-Jones é sequestrada, ela se dá conta de que não está vivendo uma clássico roteiro de filme protagonizado por Meg Ryan nos anos 1990. Pelo contrário, a mocinha é protagonista de um grande horror revenge, uma história na qual é vítima da sana de um homem doente e deve se munir de ferramentas para dar a volta no vilão vivido por Sebastian Stan.  



O longa de Mimi Cave tem inúmeras qualidades. Seus trinta minutos iniciais são arrebatadores, magnéticos, exemplares. A diretora e a roteirista Lauryn Kahn conseguem gradualmente envolver o espectador no flerte de Steve e Noa. Sebastian Stan e Daisy Edgar-Jones soltam faísca quando estão juntos. O ator consegue convencer o público com um personagem charmoso, praticamente irresistível, que cederá no segundo momento do longa para a completa psicopatia, revelando uma outra faceta por trás dessa atração que exerce inicialmente na protagonista e no espectador. 

É uma pena que justamente nesse ápice da loucura de Steve, o longa não consegue acompanhar os esforços do ator e oscila entre eventos que emperram a narrativa e parece fazer com que ela ande em círculos com outros que demonstram algum esforço de manutenção da força criativa de suas realizadoras. É como se, no instante em que Noa se transforma na refém do médico canibal, Fresh se apresentasse como uma obra de vitalidade instável. Assim, ao mesmo tempo em que o longa tem outro grande momento quando coloca em suspeita os próprios interesses da sua heroína, o filme demonstra no terceiro ato uma completa falta de timing encerrar sua trama, ficando às voltas com a necessidade insaciável e cíclica de corroer o patriarcado por todas as vias, quando na verdade a fuga das vítimas de Steve já era o suficiente.   


Como exercício de gênero, Fresh é bem interessante, articulando comédia romântica e horror em um longa que no fim das contas apresenta um humor macabro na temática do canibalismo, articulando ainda uma trama de vingança da era me too. Particularmente, Fresh tem seus melhores momentos quando apresenta uma ironia na leitura que faz da situação bizarra vivida por suas personagens do que quando assume ser representante de uma causa social, demonstrando aqui um didatismo que não condiz com a sutileza e refinamento que exibe em outras articulações da história.  


Avaliação


Título original: Fresh
Ano: 2022
Duração: 114 minutos
Disponível no Star+
Direção: Mimi Cave
Roteiro: Lauryn Kahn
Elenco: Daisy Edgar-Jones, Sebastian Stan, Jojo T. Gibbs, Charlotte Le Bon, Andrea Bang, Dayo Okeniyi, Brett Dier, Alina Maris, William Belleau. 

Assista ao trailer:




 

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Chovendo Sapos: Crítica: Fresh
Crítica: Fresh
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