Quebrando tabus
Poucas vezes se vê na tela a sexualidade ser explorada de maneira tão natural, sem tabus ou estereótipos como na comédia Boa Sorte, Leo Grande de Sophie Hyde. No longa, Emma Thompson interpreta uma professora viúva que contrata os serviços de um garoto de programa chamado Leo Grande, interpretado por Daryl McCormack (da série A Roda do Tempo da Amazon). Preservando o anonimato, ela acaba tendo uma série de encontros com esse rapaz em um quarto de hotel e se surpreende com a desenvoltura do profissional em sua abordagem sobre a sexualidade, algo que envolve o ato em si, mas também um processo terapêutico de libertação para aquela mulher.
O longa de Hyde é centrado basicamente nas conversas entre esses dois personagens em um cenário de proporções limitadas a partir de quatro encontros do casal. Boa Sorte, Leo Grande é então um filme que se apoia no desempenho dos seus atores e na parceria que eles conseguem estabelecer em cena. Thompson e McCormack conseguem essa química instantaneamente. Nesse ponto, é surpreendente a desenvoltura do rapaz ao estabelecer dueto com uma atriz tão experiente como sua colega de cena. Em Boa Sorte, Leo Grande, Thompson e McCormack estão de igual para igual. McCormack sendo, claro, um ouvinte e provocador da própria elaboração que a personagem de Thompson faz de si e da sua história.
É preciso dizer também que esta comédia é um grande momento para Emma Thompson. Ela tem nas mãos uma personagem que encontro a encontro se transforma, deixando para trás aquela personalidade rígida para se tornar uma pessoa mais leve, à vontade consigo mesma, com o seu próprio corpo e com aquilo que lhe proporciona prazer. Ela se prepara para a vida e a forma como Thompson brilhantemente conduz isso é exemplar. A atriz não altera de maneira abrupta a personalidade daquela mulher, traz para a tela o magnetismo de cena que lhe é peculiar, seu senso de humor e também sua sensibilidade para tornar aquela figura alguém de carne-e-osso e não um estereótipo, jamais ridicularizando suas tomadas de ação. É sempre fascinante ver a naturalidade com a qual a atriz conduz uma jornada que infelizmente ainda é tabu nas telas e, pelo gênero (a comédia), em mãos menos habilidosas, sempre acaba escorregando em um ofensivo etarismo.
Claro que parte do resultado do filme também deve ser creditado a diretora Sophie Hyde e a roteirista Katy Brand, à visão que ambas tem sobre a sexualidade e como ela pode - e deveria com mais frequência- ser abordada nas telas. Com o estreitamento dos laços entre os seus dois personagens e a abordagem do garoto de programa Leo Grande, é interessante perceber como ambas conseguem naturalizar a questão, derrubando tabus sem radicalizações dramáticas ou estéticas, apenas fazendo com que, gradualmente, o sexo se torne parte da vida da personagem de Thompson como outra seara qualquer da sua rotina. Nesse sentido, também é interessante notar como as realizadoras edificam (sem ironia) os profissionais do sexo e também como vinculam nossos problemas com a sexualidade à repressão sexual enraizada em nossa educação.
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