Na leva nostálgica dos anos 1980, é claro que em algum momento Hollywood ia tirar da gaveta uma continuação de Top Gun, um dos maiores sucessos da indústria na década responsável por lançar um dos grandes nomes do cinema de todos os tempos, Tom Cruise. Em 2022, após adiamentos em virtude da pandemia, a Paramount enfim lança Top Gun: Maverick, com Cruise retornando ao protagonismo como o personagem título da continuação dirigida por Tony Scott em 1986.
Na trama do segundo filme, o piloto de testes interpretado por Cruise tem que provar para seus superiores que a presença humana à frente dos aviões da Marinha segue fundamental. Além disso, o personagem tem uma nova responsabilidade, liderar e instruir um grupo de jovens oficiais. Um dos maiores desafios de Maverick é lidar com um fantasma do passado na forma do filho de Goose, companheiro do personagem morto de forma traumática no primeiro longa.
Com uma equipe que lhe dá segurança (o diretor Joseph Kosinski já trabalho com o ator em Oblivion e Christopher McQuarrie de Jack Reacher: O Último Tiro e dos dois últimos Missão: Impossível assume o roteiro), Cruise está à frente de um "cinema testosterona" protocolar em Top Gun: Maverick. Dramaticamente, o longa está servido de uma série de cacoetes do cinemão. De um lado, o herói está às voltas com uma relação cheia de entraves com Bradley 'Rooster', o filho de Goose vivido por Miles Teller, mas o roteiro dá pouca substância para os meandros dessa relação. Do outro, como de praxe, o romance "muleta" que o próprio filme encontra dificuldades para justificar sua importância na tela. Há um novo interesse amoroso para Maverick na figura da dona de um bar interpretada por Jennifer Connelly, uma personagem que nunca diz de fato a que veio e que sequer inspira a química e a tensão sexual que o piloto de Cruise tinha com a a Charlie de Kelly McGuillis no primeiro Top Gun.
O território que Top Gun: Maverick exibe seu melhor desempenho é mesmo na condução das suas cenas de ação. Como sempre, Cruise funciona muito bem à frente desses momentos e as sequências de Maverick no ar, sobretudo um momento em que seu personagem dribla um trajeto sinuoso e a câmera, localizada na sua cabine de pilotagem, registra o esforço físico do ator e do personagem no comando daquela máquina pelos ares. A fotografia de Claudio Miranda capta muito bem esses momentos no céu com tomadas belíssimas e, nesse quesito, Top Gun: Maverick justifica a espera para um grande lançamento nas salas de cinema.
A continuação de Top Gun disfarça bem, mas é fruto desse desejo insaciável da indústria nos últimos anos de reciclar o passado. A vibe oitentista representada pelo reencontro da velha turma - a cena de Tom Cruise com Val Kilmer é um momento solene na história -, a trilha sonora com as batidas da época, a cena dos oficiais sem camisa na praia, os passeios de Maverick na moto, agora com Jennifer Connelly na garupa... Tudo oscila entre a memória afetiva e a reencenação de um cânone da cultura pop. Quem é fã do primeiro filme, certamente deve ter seus bons momentos nas salas de cinema. Quem não estiver muito envolvido afetivamente com esse revival, pode sair satisfeito da sessão, mas não sei se tão engajado quanto os fãs saudosos de Maverick e dos seus feitos em Top Gun.
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