Crítica: A Felicidade das Coisas


Durante uma viagem de férias com a mãe e os dois filhos para Caraguatatuba, litoral de São Paulo, Paula (Patrícia Salvacy) lida com questões complicadas, a principal delas, a completa ausência do marido. Enquanto aguarda as ligações telefônicas e o suporte do esposo durante a instalação de uma piscina na propriedade da família, a personagem tenta conviver com toda a ansiedade de esperar uma terceira criança, as questões de um filho que está prestes a entrar na adolescência, Guto, e as demandas naturais de ser mãe de uma menina viva e esperta como sua filha Gabi. Paula atravessa esta fase da sua vida ao lado da mãe, que se transforma no seu ponto de escuta e observação. 

Segundo longa da diretora e roteirista Thais Fujinaga (de A Cidade onde Envelheço), A Felicidade das Coisas é um filme que avalia a reiterativa insatisfação do ser humano com o encaminhamento da vida e como as possibilidades de felicidade concreta escapam por nossos dedos quando estamos nesse transe do cotidiano.  Para o filme, o ser humano é uma espécie dispersa por paliativos da sociedade de consumo que prometem uma felicidade momentânea, nos afastam daquilo que realmente importa e, consequentemente, nesse processo, deterioram nossa saúde mental. 


De maneira sutil, Fujinaga contrapõe o tempo inteiro as visões de Paula e sua mãe no esforço de tecer comentários sobre seu tema. Enquanto a protagonista interpretada com sensibilidade por Patricia Salvacy parece sempre em situação limítrofe, estabelecendo a reatividade como modus operandi das suas relações, sejam elas com os filhos, a mãe, o marido ou figuras desconhecidas, como o homem que vai instalar sua piscina ou o pescador que insiste em invadir sua propriedade, a mãe, vivida por uma sempre inspirada Magali Biff, conduz o cotidiano com leveza, desapego e calma, ela aproveita cada instante da sua maturidade. A oposição entre mãe e filha é nevrálgica para A Felicidade das Coisas.

É tocante a simplicidade com a qual a personagem de Biff procura o contentamento nas pequenas coisas da vida. Muitas vezes, a mãe de Paula encontra parceria na neta Gabi, interpretada pela menina Lavínia Castelari, sempre esperta, viva, afiada, espontânea e curiosa em cena.  Em A Felicidade das Coisas, saber o que realmente importa na vida acaba sendo um privilégio das crianças e dos mais velhos. 


 O olhar de Fujinaga é tecido sem didatismo por um roteiro que se preocupa muito pouco com a descrição dos eventos e das emoções pelas falas das personagens, o tradicional equívoco da hiper-exposição no cinema. A Felicidade das Coisas é atento aos gestos imperceptíveis pelo olhar que busca a grandiosidade dos eventos. O que interessa nesse filme está naquilo que escapa à narrativa épica.  Compreendemos as considerações da diretora a partir do seu trabalho com os atores, as interações entre eles e suas tomadas de posição em cena. É um filme que leva tempo para desabrochar e exige do espectador paciência e olhar clínico para as situações, uma história que, como a felicidade do seu título, é feita de momentos e daquilo que eles insuspeitamente revelam sobre nossas aspirações individuais. 


Avaliação: 



Título original: A Felicidade das Coisas
Ano: 2022
Duração: 87 minutos
Nos cinemas
Direção: Thais Fujinaga
Roteiro: Thais Fujinaga
Elenco: Patricia Saravy, Magali Biff, Messias Gois, Lavinia Castelari.  

Assista ao trailer:



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Chovendo Sapos: Crítica: A Felicidade das Coisas
Crítica: A Felicidade das Coisas
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