O longa de Ozon aposta naquilo que não está na tela para tecer a psicologia de personagens que aparentemente não têm muito conflito a resolver. Na verdade, Está tudo bem acompanha mais um processo de amadurecimento de resoluções do passado do que propriamente uma jornada convencional de superação de obstáculos. O diretor e roteirista examina toda a trajetória que leva Emmanuèle ao ponto em que se encontra no filme. Nesse sentido, Ozon traz uma história sobre o tempo e como ele é capaz de contornar desavenças e mágoas, fazendo "ficar tudo bem" a despeito dos problemas que a vida inevitavelmente coloca na nossa frente.
Apesar de amar André, Emmanuèle sempre teve uma relação complicada com o pai, marcada pela separação nada amistosa dele com sua mãe, participação de Charlotte Rampling, e pelo bullying que praticava com a garota por conta da sua aparência e dos seus hábitos alimentares. Em dado momento do filme, Emmanuèle confessa ter passado por situações em que desejou a morte do pai. No entanto, apesar das turbulências do passado, o que se vê na maturidade da personagem é uma forte cumplicidade e afeto com esse homem. Talvez por esta resiliência de Emmanuèle, André se sinta mais confortável em pedir a ela que prepare a sua morte.
Sophie Marceau tem um ótimo desempenho nesse drama de Ozon interpretando uma mulher que na maior parte do tempo consegue conter bastante sua reatividade aos eventos. É interessante como Emmanuèle se relaciona intimamente com a violência, seja ela verbal ou física. Socialmente, Emmanuèle é uma mulher muito polida, aparentando sempre muita calma e controle, mas na intimidade, por exemplo, é capaz de se mostrar fã do cinema gore e tem seus momentos de choro rasgado no banheiro. Marceau consegue exibir na tela as nuances dessa personagem que represa medos e raivas, adquirindo "frieza" para solucionar questões delicadas. É um desempenho discreto, muito bem executado pela atriz na tela.
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