Que Michael Bay é um diretor afeito a megalomania, qualquer iniciado no cinema hollywoodiano está mais do que ciente. Realizador de blockbusters como Transformers e Armageddon, Bay se interessa por grandes eventos e muita pirotecnia com tudo aquilo que a tecnologia proporciona ao cinema em áudio e produção de imagens. No entanto, a aplicação dessas marcas por Bay não é ponto pacífico entre os espectadores. Há quem goste da ação caótica dos filmes do diretor, com suas mais de duas horas de duração, seu grande número de cortes, seus efeitos digitais e explosões, elementos que se sobrepõem à trama, e há quem simplesmente ache tudo isso intolerável. Antecipo ao leitor que pertenço ao segundo grupo, mesmo que aprecie pontualmente alguns filmes de Bay, como o esquecido A Ilha com Ewan McGregor e Scarlett Johansson.
Ambulância: Um Dia de Crime chama a atenção pela premissa simples, que aspira uma narrativa de dimensões mais modesta se a compararmos com os demais filmes do realizador, sempre mergulhados em eventos de proporções urgentes e globais. Aqui, Michael Bay se interessa pela história de dois irmãos interpretados por Jake Gyllenhaal e Yahya Abdul-Mateen II que após realizarem um assalto a um banco fogem da polícia em uma ambulância. Com um policial baleado e uma enfermeira no veículo, os dois tentam se desvencilhar da polícia e tornam-se fugitivos em uma caçada acompanhada ao vivo pela televisão.
Pela premissa, Michael Bay não precisava se ater a firulas visuais. Ambulância se apresenta como uma trama de perseguição de execução simples. No entanto, o diretor faz o oposto e transforma o longa em uma obra de ambições exageradas. Bay "pesa a mão" na maneira como registra a perseguição de veículos policiais a ambulância de Gyllenhaal e Abdul-Mateen, usando e abusando de movimentos aéreos captados por drones (sim, para uma ação na terra!). Ao mesmo tempo, o diretor parece entender que o excesso de cortes que emprega em uma cena de ação lhe confere agilidade quando na verdade só a torna confusa. Em Ambulância, o espectador nunca consegue localizar com precisão a movimentação dos atores no espaço.
Fica evidente que o mais grave problema do filme é sua execução. Ambulância conta com uma dupla de protagonistas carismática e que funciona bem. Gyllenhaal e Abdul-Mateen conseguem até mesmo suprir lacunas de um filme que não aprofunda muito o relacionamento fraterno sugerido como nevrálgico na sua história. Bay fica tão entretido com seu parque de diversões que esquece mais uma vez do elemento humano da sua obra. O problema é que dessa vez os personagens clamam por um tratamento digno do realizador, que, claro, não atende ao "chamado" do roteiro. No lugar disso, converte a emoção em pieguice no desfecho da história, apelando para uma homenagem rasa aos profissionais de saúde através da enfermeira interpretada por Eiza González.
Levando em consideração a filmografia de Michael Bay até aqui, Ambulância nem chega perto de ser seu pior trabalho. Contudo, não deixa de ser um longa repleto de vícios do diretor que sabotam o entretenimento que poderia proporcionar já que o longa possui uma premissa interessante e, em algumas circunstâncias, se revela promissor na tensão que estabelece entre dois protagonistas com códigos de conduta distintos, mas que possuem um forte vínculo afetivo. Infelizmente, Bay não consegue perceber isso e utiliza Ambulância como desculpa para exibir toda destreza fria do aparato técnico do seu cinema.
Avaliação:
Título original: Ambulance
Ano: 2022
Duração: 136 minutos
Nos cinemas
Direção: Michael Bay
Roteiro: Chris Fedak
Elenco: Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul-Mateen II, Eiza González, Jackson White, Garret Dillahunt, Keir O'Donnell, Olivia Stambouliah, Moses Ingram, Colin Woodell.
Assista ao trailer:
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