Em A História do Cinema: Uma Nova Geração, Mark Cousins retoma a sua proposta de historiografia do cinema iniciada em A História do Cinema: Uma Odisseia, série de 2011 que também tem sua versão em livro, assim como esse novo capítulo. No novo filme, Cousins faz uma atualização com filmes da última década em meio a tópicos como os expedientes tecnológicos do nosso tempo e em que dimensões eles alteraram a narrativa cinematográfica, além da ascensão de novas histórias marcadas pela pluralidade dos seus cineastas, por temas palpitantes e personagens representativos de extratos sociais sempre marginalizados na indústria criativa. Emergem nesse cinema imerso no "pós", sobretudo, olhares para outros indivíduos, como Cousins estabelece na conexão insuspeita entre a cena da dança na escadaria da locação do Bronx protagonizada por Joaquin Phoenix em Coringa (2019) com o número musical "Let It Go" da princesa Elsa em Frozen: Uma Aventura Congelante (2013). Indivíduos reprimidos que se liberam para afirmar quem são.
Uma Nova Geração segue a narração de Uma Odisseia, tendo a voz e o texto de Cousins como condutor da história do cinema e a exibição de cenas de filmes que contribuem para aquilo que o realizador quer contar. Para quem conhece Uma Odisseia, Uma Geração não traz nada de novo em sua linguagem, o que não é um problema. Trata-se de uma continuidade de Uma Odisseia. Como a série de 2011, Uma Nova Geração é envolvente. Cousins consegue como ninguém seduzir a cinefilia, fazendo-nos espectador embarcar na história do cinema que propõe através das pílulas analíticas que faz das cenas de obras marcantes no lapso temporal determinado, a década de 2010.
A entrada de filmes contemporâneos não detém o diretor de fazer articulações com obras do passado. Assim, por exemplo, ele enxerga semelhanças nas cenas de perseguição na estrada entre Mad Max: Estrada da Fúria (2015) de George Miller e A General (1926) de Buster Keaton ou encontra as distinções na atração pelos corpos das estrelas Jane Russel em Um Romance em Paris (1953) com a maneira como os físicos de Ranveer Singh de Ram-Leela (2013), Jennifer Lopez de As Golpistas (2019) e Trevante Rhodes de Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) são explorado na contemporaneidade.
Tópicos urgentes que surgem nesse novo capítulo do esforço historiográfico de Cousins que merecem destaque é o espaço que o cineasta dá para o gênero terror como território fértil na expansão da linguagem cinematográfica atual com exemplares como Suspiria (2018), O Babadook (2014), Midsommar (2019), A Corrente do Mal (2014) e Nós (2019). Fora da questão de gênero, mas ainda na expansão da linguagem e no surgimento de novas temáticas, políticas e identitárias, Cousins também tenta desterritorializar esta historiografia de centros clássicos (EUA e França), há citações a longas como Zama (2017) de Lucrecia Martel, Atlantique (2019) de Mati Diop, Uma Mulher Fantástica (2014) de Sebastian Lélio e Eu não me importo se entrarmos para a história como bárbaros (2018) de Radu Jude.
Avaliação:
Título original: The Story of Film: A New Generation
Ano: 2021
Filme integra a seleção do 27º É Tudo Verdade
Saiba como assistir acesse o link
Direção: Mark Cousins
Roteiro: Mark Cousins
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