Greta tinha como mérito a atuação de Marco Nanini, que entregava uma personagem nuançada, mesmo quando o filme não fazia muito por ele. Em Fortaleza Hotel, Armando Praça, que agora conta com o roteiro de Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, tem uma história mais bem amarrada, cujo traço central é a intensificação gradual do drama das duas personagens ao mesmo tempo que consegue estabelecer bem as bases da relação entre elas entre distinções e semelhanças. Enquanto Pilar vive uma situação limítrofe com o envolvimento de sua filha com criminosos, se colocando disposta a tudo para salvá-la e se mudar de vez para Dublin, isso significando se prostituir e cometer um crime, Shin assimila a frustração do seu plano de sair da Coreia rumo ao Brasil dar errado com a morte repentina do esposo.
O acerto do roteiro nessa construção inicial permite que as atrizes Clebia Sousa e Yeong-ran Lee tenham ótimos momentos. Sousa interpreta Pilar como uma mulher cheia de dignidade, mas toma algumas atitudes ao longo da história contrariando os seus próprios valores. É perceptível no trabalho da atriz a luta da sua personagem contra a sua própria índole e como ela entra em conflito com isso. Já Yeong-ran Lee sustenta o luto, a sensação de estafa e desnorteamento de uma mulher em terra estrangeira.
Os momentos em que as atrizes compartilham o mesmo quadro são especiais para o filme, destacando a cena na qual uma ensina para a outra músicas típicas de seus países, algo que destaca no longa o breve apagamento entre as fronteiras culturais, mas também a disposição de partilha naquela situação. É interessante também como nesses momentos de partilha o longa acerta não só na condução da atuação da dupla principal mas do ponto de vista plástico, trazendo sempre na sua fotografia um jogo interessante e simbólico entre as cores rosa e azul.
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