Maligno marca o retorno de James Wan (Invocação do Mal) ao terror após uma breve pausa no universo de super-heróis com Aquaman. O recente longa do realizador no gênero chegou aos cinemas cheio de mistérios sobre o teor da sua trama, segredos que, por sinal, só fazem bem para a recepção da obra se forem mantidos. Quanto menos sabemos de Maligno, mais interessante ele fica e mais gratificante é nossa experiência com ele.
Nosso texto inevitavelmente terá SPOILERS pois é impossível analisar esta obra sem esmiuçar alguns dos seus detalhes. Portanto, se não assistiu e não quer saber de muitas informações sobre sua trama, recomendo parar a leitura por aqui.
Maligno conta a história de uma jovem que tem visões de assassinatos reais depois que sua gravidez é violentamente interrompida pela morte do seu marido. Logo ela se transforma em peça fundamental da investigação dos assassinatos que testemunha, ajudando uma dupla de policiais a descobrirem a identidade do autor e sua ligação psíquica com a protagonista, um dos segredos centrais da obra.
Diferente de outros trabalhos de James Wan, Maligno tem uma certa dificuldade para decolar a princípio. As interrogações iniciais são muitas e deixam o longa em um estado de indeterminação inquietante. A trama do filme demora a dar as caras e durante um bom tempo o espectador fica tentando encontrar especificamente o tema daquela história, onde James Wan quer chegar com aqueles assassinatos, as estranhas alucinações da sua protagonista e um bizarro experimento científico que é dado logo no início do filme. A protagonista sofre com uma dupla personalidade? Trata-se de uma possessão demoníaca? O assassino é uma pessoa muito importante no passado da sua protagonista e daí o forte vínculo psíquico que eles possuem?
Acontece que quando o mistério por trás da história de Maligno é revelado, as qualidades da trama criada por James Wan vêm à tona porque, ao mesmo tempo, ela é marcada por uma simplicidade e uma engenhosidade. Nesse sentido, o que o diretor faz aqui é flertar com temas recorrentes do gênero de forma extremamente original. Maligno traz a obsessão do horror por histórias de gêmeos, mas nada é tão simples assim, e Wan cria uma ficção sobre uma criatura mal desenvolvida durante a gestação da mãe da protagonista que se transforma em uma espécie de parasita ou um tumor que ganha corpo e tem personalidade própria, dificultando a vida da heroína com sua personalidade extremamente violenta.
Assim, James Wan cria um vilão grotesco, abusando do gore em um roteiro que desenvolve sua jornada e seu vínculo com a personagem principal sem pontas soltas. A questão central é entender quem domina quem, o gêmeo parasita ou a protagonista? Isso é colocado como um desafio para o próprio desenvolvimento da personagem principal vivida por Annabelle Wallis, que gradualmente ganha mais segurança. Em certa medida, se instaura uma rivalidade interessante entre heroína e serial killer que nos remete ao slasher, porém com os dois pólos da ação habitando o mesmo corpo. A sinergia entre vilão e mocinha normalmente abordada nesses filmes se materializa em Maligno pois ambos habitam o mesmo corpo e foram constituídos pela mesma mãe.
O longa evidencia James Wan como um habilidoso realizador que mantém o suspense da sua história e não decepciona na revelação do seu segredo, mas é também um filme que explora duas qualidades sensíveis (e comprovadas) do realizador. Maligno é habilidoso ao envolver público em uma atmosfera de horror gradualmente angustiante, tal qual Invocação do Mal e Sobrenatural, e exibe cenas de ação muito bem realizadas quando acompanha os assassinatos do gêmeo parasita Gabriel, algo que o diretor demonstrou fazer muito bem em Velozes e Furiosos 7 e no próprio Aquaman com o famoso plano sequência protagonizado pelos personagens de Jason Momoa e Amber Heard fugindo do vilão Arraia Negra. Assim, Wan faz de Maligno uma espécie de encontro entre Irmãs Diabólicas, clássico horror de Brian DePalma sobre gêmeas, e Nikita de Luc Besson, mas lida de maneira simples, objetiva e eficiente com suas referências cinematográficas, de forma que a gente perceba os voos solos do diretor. É um entretenimento no mais elevado nível de satisfação.
Avaliação
Título original: Malignant
Ano: 2021
Disponível no HBO Max
Direção: James Wan
Roteiro: James Wan, Ingrid Bisu e Akela Cooper
Elenco: Annabelle Wallis, Maddie Hasson, George Young, Michole Briana White, Jean Louisa Kelly, Susanna Thompson, Jake Abel, Jacqueline McKenzie.
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