Cry Macho trabalha com ideias antigas no cinema de Clint Eastwood. Particularmente, desta fase "crepuscular" da carreira do diretor. Desde que chegou no final dos 70 anos (hoje com 91), o ator e diretor revisita o tipo clássico que forjou nas telas, aquele herói americano, modelo de masculinidade para os espectadores do cinema. Eastwood fez isso em Gran Torino (2008), talvez o melhor da leva, A Mula (2018) e agora em Cry Macho. Infelizmente, no último caso, não podemos dizer que o diretor e ator exiba a sua melhor forma.
No longa, o ator interpreta um ex-astro de rodeios que topa assumir um trabalho para seu ex-chefe. O personagem de Eastwood tem que ir ao México e trazer de volta o filho desse homem. Durante a jornada de volta para os EUA, o personagem do ator estreita seus laços com o garoto e acaba conhecendo uma mulher por quem se apaixona.
A jornada do herói aposentado avaliando a sua vida e escrevendo seus últimos parágrafos não leva o espectador e seus personagens a qualquer ponto de chegada. Em Cry Macho, nem mesmo o tipão de poucas palavras que o ator costuma apresentar e que está presente aqui como o ex-astro de rodeios Mike Milo dá as caras. O filme não consegue inspirar o carisma que esse tipo de personagem vivido por Eastwood costuma exalar nas telas. Cry Macho parece construir sua narrativa no mais completo vácuo.
No filme, tudo é amarrado com conclusões que chegam de bandeja para o espectador e sequer se dão ao trabalho de ter o mínimo de desenvolvimento. O Mike Milo de Eastwood se envolve amorosamente com a personagem de Natalia Traven e o público sequer vê algum afeto ser de fato construído na trajetória dessas duas figuras. Além disso, todo o questionamento sobre a masculinidade na velhice, algo sugerido inclusive pela presença interessante de um galo chamado "Macho", não apresenta nenhuma ideia que extrapole sua premissa.
A sensação que fica é que há elementos promissores espalhados por todo Cry Macho, mas parece que o filme carece de entusiasmo para abraçá-los em prol de obra com mais viço. E isso não tem nada a ver com idade, muito pelo contrário. Falta o entusiasmo e o brilho que o realizador imprimiu em filmes como Gran Torino, que fazia um inventário do mito em torno de Clint Eastwood comprometendo-se com nosso entretenimento e com a tessitura de uma belíssima obra. Aqui, Eastwood demonstra apenas um esboço.
Avaliação:
Título original: Cry Macho
Ano: 2021
Disponível na HBO Max
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk e N. Richard Nash
Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven, Dwight Yoakam, Daniel V. Graulau, Fernanda Urrejola, Ivan Hernandez, Horacio Garcia Rojas.
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