Crítica: Matrix Ressurections


Lançado em 1999 como um sci-fi repleto de conexões filosóficas e uma dose de kung-fu, Matrix das irmãs Lana e Lilly Wachowski foi um filme visionário no seu tempo apontando tendências da nossa sociedade que só seriam reforçadas anos depois. Apesar disso, a trilogia terminou mal com os frágeis Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, ambos lançados em 2003. Sem Lilly, Lana retorna para o universo de Neo, Trinity, Morpheus com a promessa de contornar algumas más impressões desses últimos capítulos e explorar mais um pouco a franquia nos cinemas. 

Há um traço desse comeback que revela um desgaste do seu aproach justamente agora. Na verdade,  todo produto alicerçado nessa fonte insaciável de desejos do público da cultura pop, a demanda por nostalgia, acaba sendo vítima desse esquema. Por mais que aqui e ali surja um diálogo interessante e autoconsciente do lugar de Ressurections na demanda industrial e o filme trace alguns novos temas, este novo capítulo de Matrix é uma grande reatroalimentação de motivos, personagens e horizontes para a sua história. 


Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss seguem sendo o centro de todas as ações. Em Matrix Ressurections isso parece mais evidente pois toda a trama do longa gira em torno dos esforços de Neo para reencontrar Trinity. E nem parece que Moss e Reeves passaram tanto tempo longe desse universo pois ambos estão muito à vontade nesse retorno e conseguem reestabelecer a ótima química que construíram desde o primeiro longa. 

Há algumas adições interessantes. Yahya Abdul-Mateen II substitui muito bem Laurence Fishburne como Morpheus, imprimindo uma dose necessária de sarcasmo. Outro nome que se revela uma grande adição para a franquia é Jonathan Groff, que vive o Agente Smith, outrora interpretado por Hugo Weaving. Groff tem o carisma necessário para dar a dubiedade necessária a uma figura que oras está do lado da dupla principal, oras está contra ela. 


Infelizmente, a direção da ação em Ressurections não impressiona muito e até se revela banal. Como produto de uma franquia que revolucionou o cinema nesse quesito com o bullet time (aquele efeito de câmera lenta no qual Neo desviava de balas no primeiro longa), é decepcionante notar como esse departamento do filme é morno. É possível que seja uma cobrança até injusta pois praticamente tudo o que Hollywood produziu no gênero "bebeu" bastante de Matrix. Então, como efeito colateral, a gente pode até sentir uma certa trivialidade no que Ressurections oferece. 

Matrix Ressurections está longe de passar a péssima impressão que o desfecho de Revolutions causou. O filme de Lana Wachowski é um entretenimento melhor do que a média, mas não deixa de ser um pouco decepcionante que nos últimos anos Hollywood pareça viver de se retroalimentar de antigas franquias e não criar novas que produzam o mesmo efeito que Matrix fez em 1999. Nostalgia cinéfila deveria ser suprida com memorabilia (dvds, pôsteres, action figures) e não com filmes "repetecos. E não me refiro a isso escrevendo sobre Matrix porque nunca tive um vínculo muito forte com a franquia, mas amplio esta conversa a outras séries cinematográficas que gosto bastante, como Jurassic Park. Já passou do tempo de Hollywood parar um pouco com esse movimento. Do contrário, o risco é sempre macular ou banalizar universos e personagens que foram historicamente singulares na sua época.  
 

Avaliação:


Título original: The Matrix Ressurections
Ano: 2021
Nos cinemas
Direção: Lana Wachowski
Roteiro: David Mitchell e Aleksandar Hemon
Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff, Jessica Henwick, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett-Smith, Priyanka Chopra Jonas, Christina Ricci.

Trailer: 




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Chovendo Sapos: Crítica: Matrix Ressurections
Crítica: Matrix Ressurections
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