Vingança e Castigo é um western coerente com a política da Netflix de procurar a diversidade na produção audiovisual do seu catálogo. Na história do cinema estadunidense, há uma lacuna considerável de filmes do gênero com elencos formados na sua maioria por atores negros. A produção de Jeymes Samuel faz essa reparação colocando à frente da sua ação alguns dos nomes mais quentes do momento em Hollywood como Regina King, Idris Elba, Lakeith Stafield, Zazie Beetz, além do veterano Delroy Lindo, recém-saído da arrebatadora atuação em Destacamento Blood de Spike Lee.
No longa, temos a história de um fora-da-lei vivido por Jonathan Majors, um rapaz que viu a família ser assassinada na sua frente quando criança. O personagem de Majors descobre que o seu maior inimigo, um lendário bandido interpretado por Idris Elba, saiu da prisão e retomou suas funções junto com seu bando. É então que o protagonista se reúne a um outro grupo de personagens para fazer frente às investidas do rival.
Jeymes Samuel não chega a fazer um filme que ambiciona reestruturações nas convenções narrativas do gênero. Não vemos em Vingança e Castigo nem mesmo um discurso que frisa reparações históricas nas relações entre negros e brancos nos EUA, como fazia, por exemplo, Django Livre de Quentin Tarantino. O tópico está presente no filme no sarcasmo com o qual trata os brancos, mas não chega a ser uma das suas principais preocupações do longa. A reparação que o diretor e roteirista desta super-produção quer realizar é na própria representação do negro no cinema estadunidense.
Vindo do departamento musical de longas como O Grande Gatsby e tendo trabalhado com figurões como Jay-Z, Samuel já havia começado a empreitada que apresenta aqui em sua estreia, They Die by Dawn. No entando, Vingança e Castigo leva esse projeto do diretor a um outro patamar com todo o aporte financeiro e a visibilidade da Netflix. Assim, o que vemos é uma produção extremamente caprichada, que valoriza elementos plásticos como a construção dos seus cenários e figurinos. Há em Vingança e Castigo uma vocação para o cinema pop na medida em que todas as figuras que estão na tela esbanjam carisma e a trilha sonora é extremamente sedutora, misturando Hip Hop e R&B com temas que nos remetem a clássicos do gênero.
A trama do filme é protocolar e frustra em certa medida. Há percalços no roteiro. A trama central que envolve o passado do protagonista é diluída em uma cena final de confronto com o personagem de Elba, isso depois de ser esquecida por praticamente todo o filme.
O elenco de atores premiados se diverte em cena, mas não surpreende. O filme parece se bastar do carisma dos seus atores e não se dedica a uma construção de personagens mais apurada.
Vingança e Castigo até oferta algumas camadas que tornam o bom mocismo e a vilania das suas personagens dúbia ou questionável, mas nada muito extremo. A exceção talvez seja da atriz Danielle Deadwyler, que vive a figura mais interessante do projeto, uma moça que perambula pelo cabaré da personagem de Zazie Beetz e que logo é incorporada ao bando do personagem de Majors.
Vingança e Castigo usa sem subterfúgios
o
star power do seu elenco para fazer puro entretenimento. Lógico que o cinema sempre se valeu dessa fórmula, a diferença é que outrora isso era abraçado por
majors quando os envolvidos eram brancos. É interessante que a gente viva um momento no qual um projeto comercial como
Vingança e Castigo, mesmo com todos os problemas e a banalidade criativa que possui,
possa ser "abraçado" por uma empresa do porte da Netflix.
Cotação
Título original: The Harder they Fall
Ano: 2021
Disponível na Netflix
Direção: Jeymes Samuel
Roteiro: Jeymes Samuel e Boaz Yakin
Elenco: Jonathan Majors, Regina King, Idris Elba, Zazie Beetz, Lakeith Stanfield, Delroy Lindo, Danielle Deadwyler, Edi Gathegi, RJ Cyler, Chase Dillon, DeWand Chise.
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