Em Noite Passada em Soho, uma estudante de moda recém-chegada em Londres é misteriosamente transportada para a década de 1960 quando adormece no quarto que aluga. Quando faz a viagem no tempo, a jovem Ellie (Thomasin McKenzie, de Jojo Rabbit) acompanha os passos de Sandie (Anya Taylor-Joy, de O Gambito da Rainha), uma aspirante a cantora que acaba se tornando garota de programa. Com essas idas e vindas ao passado para testemunhar a vida de outra mulher, Ellie começa a vivenciar no mundo real o temor de ser violentada por um homem e passa a se sentir perseguida por alguns vultos.
O diretor Edgar Wright (de longas como Em Ritmo de Fuga e Chumbo Grosso) faz um filme de horror com o pior dos temores de uma mulher. E Wright faz isso com todo um verniz estilizado que consegue conferir a Noite Passada em Soho um tom meio lisérgico de perpétuo pesadelo, sobretudo quando o imaginário da protagonista fica cada vez mais presente no seu mundo real. O ponto positivo do filme é justamente como o diretor articula isso em prol de uma narrativa de horror. Um dos percalços centrais do projeto, todavia, é a maneira como Wright "cozinha" o espectador até que o mote central desse filme de fato dê as caras.
Apesar do chamariz do projeto ser a atriz Anya Taylor-Joy - e não poderia ser diferente dado o sucesso do seu mais recente trabalho, a minissérie da Netflix O Gambito da Rainha -, o fio condutor do filme é a personagem de McKenzie, que está muito bem no papel. Taylor-Joy funciona como uma espécie de aparição mítica, mas também uma típica mocinha de giallo. Noite Passada em Soho também traz para o público uma participação marcante de Diana Rigg, recém falecida, impecável no papel da senhora que aluga o quarto para a protagonista.
O longa tem momentos deslumbrantes com o jogo que Wright faz com McKenzie e Taylor-Joy, muitas vezes no mesmo quadro como duplos. Quando Noite Passada em Soho eleva o tom das alucinações da sua protagonista, também há situações inspiradíssimas, sobretudo quando há um twist no encerramento envolvendo a personagem de Taylor-Joy. É então que tudo tomar ares ainda mais angustiantes de pesadelo e Edgar Wright sabe muito bem fazer isso.
Mais contido nos vícios de um cinema que quer se mostrar a todo custo jovial com referências culturais e elementos sígnicos, algo frequente na filmografia do diretor, Noite Passada em Soho tem como benefício a forma direta como apresenta sua chave de comunicação para o espectador. Bem mais direta que os demais longas do realizador. Sem rodeios ou frufrus, Wright faz um filme de horror e investe pesado nisso. Pode não ser o mais marcante exemplar da sua carreira e ter suas escorregadas na estrutura da jornada da sua protagonista, mas é certeiro no alcance dos seus objetivos. Na maior parte das vezes, eficiente. Sobretudo quando o propósito de sua narrativa se revela enfim para o espectador.
Cotação
Título original: Last Night in Soho
Ano: 2021
Nos cinemas
Direção: Edgard Wright
Roteiro: Krysty Wilson-Cairns
Elenco: Thomasin McKenzie, Anya Taylor-Joy, Matt Smith, Diana Rigg, Synnove Karlsen, Aimee Cassettari, Rita Tushingham, Michael Ajao.
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