Em mais de três décadas de carreira, apesar de todo o reconhecimento internacional, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar nunca filmou em outra língua. Há que se imaginar que não foram poucos os convites. A exceção veio em 2020 quando, durante a pandemia da COVID-19, Almodóvar entrou no set para realizar o curta-metragem A Voz Humana com a atriz Tilda Swinton como protagonista. O pretexto não poderia ser melhor, já que a inesperada colaboração dos artistas era promissora dadas as vocações criativas de ambos.
Adaptação livre da peça homônima de Jean Cocteau, Almodóvar dirige Swinton na história de uma mulher tentando lidar com uma separação. Em meio aos sentimentos conflituosos dessa relação que se dissolve, ela tenta organizar alguns pensamentos enquanto conversa ao telefone com o ex. O resultado disso é praticamente um monólogo, já que a única voz que vemos em cena é a de Swinton em um discurso confessional marcado por sentimentos aflorados, como convém ao cineasta.
Em A Voz Humana, Almodóvar consegue tornar Swinton uma figura igualmente inserida no seu universo de performances femininas, junto a atrizes que tão naturalmente se associaram ao cinema do diretor, como Penélope Cruz, Carmen Maura e Marisa Paredes. Tilda entrega uma interpretação visceral que flerta com o tragicômico, o passional, variando entre sentimentos díspares em razão de segundos.
Toda a história se passa no apartamento da personagem da atriz e o diretor não esconde toda a artificialidade da situação quando o coloca em um estúdio cinematográfico. A cenografia e o figurino também seguem a cartilha do cinema do diretor, com a presença de cores fortes, sobretudo o vermelho, claro, que se mesclam com a alta carga emocional em cena.
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