O Culpado é um remake do longa dinamarquês Culpa de Gustav Möller, submissão do país para o Oscar na temporada 2018-2019. A versão estadunidense é uma produção da Netflix protagonizada por Jake Gyllenhaal e dirigida por Antoine Fuqua, com quem o ator já havia trabalhado em Nocaute (2015). Como se não bastassem tais credenciais, o filme ainda ganhou um roteiro de Nic Pizzolatto premiado escritor por trás de True Detective da HBO e que já tinha trabalhado com Fuqua em outro remake conduzido pelo realizador, Sete Homens e um Destino de 2016.
O filme foi o projeto ideal para Fuqua e Gyllenhaal realizarem em tempos de pandemia. No total, as filmagens duraram apenas 11 dias, algo raro. Tudo porque os envolvidos tinham em mãos uma história centrada em um único personagem. Durante toda a projeção, o único rosto que o espectador vê na tela é o de Gyllenhaal. Ocasionalmente, um ou outro ator surge em cena para interagir com ele na central de operações da polícia onde ele trabalha, mas, de maneira geral, a ação se concentra nos atendimentos de ligações feitas pelo personagem de Gyllenhaal. Há ainda o uso de um único cenário, a central de atendimentos onde o protagonista trabalha, o que facilita ainda mais as filmagens em tempos de pandemia e, obviamente, reduzem os custos de produção. Ou seja, o "melhor dos mundos" no cenário de 2020-2021.
Em O Culpado, o ator interpreta um policial rebaixado para a central de atendimentos de chamadas de emergência. Enquanto Los Angeles é consumida pelas chamas de um incêndio florestal, o personagem lida com os apelos de uma mulher que parece estar em apuros do outro lado da linha telefônica. O que acontece a partir daí são ligações sucessivas que o protagonista faz para outros personagens eventualmente envolvidos na situação, como o filho e o ex-marido da moça.
A proposta dramática de O Culpado de ser um filme centrado completamente na performance de Jake Gyllenhaal não é novidade no cinema. Antes mesmo de tempos pandêmicos como o que vivemos ela já foi executada por outras obras. O grande problema desse filme de Fuqua é que mesmo contando com um ator tão versátil e denso quanto Gyllenhaal, supostamente o protagonista ideal para esse tipo de proposta, o longa não consegue criar a tensão necessária para manter a fidelidade do espectador na tela. Com suas econômicas uma hora e trinta minutos de duração, O Culpado é um filme enfadonho para ser acompanhado em casa.
O recurso das ligações seria um elemento interessante para estimular a imaginação do público a respeito daquilo que não não se vê na tela, mas Fuqua não sabe aproveitar isso. Só para termos um parâmetro, o ótimo A Vastidão da Noite do Amazon Prime Video soube criar essa tensão com uma economia impressionante de recursos na tela, se apoiando sobretudo em ligações telefônicas recepcionadas por protagonistas que lidavam com uma ameaça alienígena.
Quando apresenta os reais motivos do seu protagonista ter sido afastado de suas funções, culminando em uma dramática decisão dele que trará severas repercussões na sua vida pessoal e profissional, o filme apresenta um link interessante com toda a repercussão gerada ano passado pelo caso George Floyd. No entanto, até o espectador chegar nessa conclusão a jornada empreendida por Gyllenhaal na sua cabine de atendimento não é nada estimulante.
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