Em Pedregulhos, o diretor e roteirista indiano P.S. Vinothraj conta a história de um homem que após um episódio de violência doméstica contra sua esposa vai com seu filho para uma aldeia vizinha na tentativa de trazê-la de volta para casa. A empreitada acaba não sendo muito bem-sucedida e os dois retornam sozinhos e a pé, atravessando um deserto de sol escaldante e outras adversidades latentes. Ao longo da jornada, o cineasta traça uma série de reflexões sobre a vida dos seus personagens e sobre os seus relacionamentos familiares.
Com cerca de 75 minutos de duração, o filme de Vinothraj causa a sensação de levar mais tempo que o definido para narrar a jornada de seus personagens. Isso porque o longa procura se aproximar na medida do desejável da experiência real de uma caminhada dos seus protagonistas, destacando o traço extenuante da "microjornada" apresentada. Na maior parte das vezes, o que vemos é pai e filho trocando pouquíssimas palavras e quando qualquer tipo de comunicação acontece, da parte do adulto, ela sempre se dá pela violência física.
É um filme que causa sensações desconfortáveis no público pela maneira como expõe relações humanas marcadas pela aspereza. Ao mesmo tempo, o longa parece ficar deslumbrado com o próprio poder de fogo das imagens que compõe para aquela região. O realizador mira em um registro mais realista e cru do cotidiano, optando por uma câmera que se faz extremamente observadora dessa caminhada, mas também intervém poeticamente nesse processo quando assume expedientes de construção imagética mais ambiciosos, como suas tomadas aéreas dos personagens e veículos passando pelo deserto.
Refletindo como a completa aridez daquele contexto não é só espacial, Pedregulhos nos dá num panorama sobre uma sociedade composta por homens desumanizados, infâncias negligenciadas e mulheres afastadas dos seus filhos. A faísca de esperança, se é que isso é possível - está mais para um resquício de humanidade-, surge quando alguns dos personagens oprimidos percebem que a colaboração é um dos caminhos para lidar com os gestos rudes da vida.
Em diversos momentos, temos a sensação que o filme se beneficiaria mais do formato de um curta-metragem pelas próprias ambições do projeto e pela experiência espectatorial cansativa que ele acaba resultando. É o caso da obra que se beneficiaria e muito de uma apresentação mais enxuta.
Cotação
Título original: Koozhangal
Ano: 2021
Integra a "Competição Novos Diretores" da 45ª Mostra de São Paulo
Direção: P. S. Vinothraj
Roteiro: P. S. Vinothraj
Elenco: Karuththadaiyaan, Chellapandi
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